Helicóptero sobrevoando um incêndio
Em termos de horas de voo, a redução é de quase metade, os grupos de reforço, normalmente enviados de outros distritos, caiu para um terço e o envolvimento dos meios militares e logísticos, muitos dos quais disponibilizados a partir da activação de planos de emergência, também sofreram um corte substancial.
Apenas no respeitante ao uso de equipas de primeira intervenção helitransportada se verificou um aumento, que não chegou para que o número de horas de voo dos helicópteros ultrapassasse os do ano passado, mas demonstrando uma alteração táctica no ataque aos incêndios.
Temos portanto um menor esforço, se considerarmos a diminuição de horas de voo como uma redução dos meios aéreos, num ano em que o número de ocorrências surge como superior à média e com dias em que se bateram records de alertas de incêndios.
Deve-se, no entanto, ter em atenção que nas estatísticas entram fogachos, que correspondem a fogos com menos de um hectare, falsos alarmes, e um sistema algo discutível de base distrital onde o mesmo incêndio pode ser contabilizado várias vezes conforme vá transitando de um comando distrital para outro.
Assim, se considerarmos fogachos, falsos alarmes e dupla contagem, podemos estar diante de dados da DGRF com um aumento de 25-30% relativamente ao número real de ocorrências, que neste momento ultrapassa as 19.000 segundo o sistema de contagem em vigor.
Esta difícil contabilidade, por um lado impede uma comparação correcta com anos anteriores e por outro, limita a possibilidade de uma avaliação efectiva da real eficácia das intervenções, que o comandante nacional de operações de socorro, Gil Martins, considera ter aumentado.
Com um sistema informático que liga o Centro Nacional de Operações de Socorro aos Centros Distritais em ano de estreia, parece ser impossível ao Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil fornecer dados consistentes a nível nacional relativamente ao ano corrente e menos ainda a anos anteriores dado estarem dispersos por diversos documentos sem suporte informático.
No respeitante às intervenções de equipas helitransportadas, a situação é análoga, com o agravante da alteração de critérios de avaliação, pelo que as comparações com anos anteriores se torna incosistente.
Pode-se, no entanto, concluir que as nove equipas profissionais dos bombeiros e das celuloses efectuaram 557 missões, as 12 do Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro da Guarda Nacional Republicana (GNR) um total de 670 e as 13 compostas por voluntários atingiram as 819, com uma eficácia global de 91%, o que pressupõe que consigam dominar o incêndio até ao momento de abandonar o terreno.
O maior número de intervenções dos voluntários deve-se, ainda segundo o SNBPC, ao facto de estarem estacionados nos distritos que têm registado mais ocorrências, como Braga, Porto, Lisboa e Aveiro, algo que significa que o posicionamento dos GIPS poderá não ter sido o mais adequado, dado esperar-se que estes estivessem nas áreas de maior incidência de incêndios.
Neste momento, é ainda difícil tirar conclusões relativamente ao emprego dos meios aéreos, mas a opção por uma primeira intervenção rápida antes de os fogos atingirem dimensões consideráveis tem-se revelado acertada.
Os dados podem, no entanto, comprometer a opção pela criação do GIPS e o seu posicionamento, pois esta unidade apresenta neste momento resultados inferiores aos das equipas de bombeiros, sejam estas profissionais ou de voluntárias, pelo que, sabendo-se que não há dois fogos iguais, se exige uma avaliação mais rigorosa, nomeadamente em termos do tipo de missões e da intervenção a nível qualitativo, de forma a equacionar eventuais alterações.
Na altura da criação do GIPS, era nossa parecer que o investimento feito deveria ter sido efectuado nos bombeiros e não na GNR, pelo que, não obstante o indiscutível empenho e profissionalismo deste excelente conjunto de militares da Guarda, é chegada a hora de analisar, de forma aprofundada e com dados concretos, sobre a validade da opção feita pelo Governo.