Incendiário preso em Itália
O perfíl dos incendiários portugueses tem vindo a mudar, segundo um estudo da
Polícia Judiciária que aponta, sobretudo, para um maior grau de educação, que podemos traduzir por melhores habilitações literárias entre os pirómanos.
Esta conclusão é, no entanto, de ínfima importância, pois nos últimos anos a escolaridade média tem vindo a subir, pelo que, na faixa ectária de referência, começa a ser difícil encontrar quem tenha apenas a instrução primária ou somente o preparatório.
De igual forma, deve-se ter em atenção que o facto de agora haver estudantes a atear fogos, deriva igualmente de estes permanecerem na escola até mais tarde, algo que não se verificava há alguns anos, quando o abandono escolar abrangia sobretudo uma faixa ectária ainda mais jovem.
Portanto, a conclusão de que houve uma evolução nos pirómanos apenas revela que estes continuam a acompanhar o nível de educação mínimo que se pode encontrar entre nós e não que indivíduos com um grau de instrução superior à média pratique este tipo de crime.
Quanto às restantes características, o facto de ser normalmente do sexo masculino, é algo consistente com a esmagadora maioria dos crimes praticados em Portugal, pelo que não reduz substancialmente o universo de potenciais pirómanos, tal como acontece com a idade que é predominantemente entre os 20 e os 50 anos, onde podemos encontrar a maioria da população activa e, coincidentemente, o maior número de criminosos.
Temos, seguidamente, a questão da falta de integração familiar, a que acrescento uma dificuldade de integração social, concretamente em fazer amigos ou estabelecer relacionamentos, facto que empurra para situações ou de marginalidade, ou para uma necessidade de reconhecimento que poderá provocar acções onde o responsável possa surgir como a solução.
Desta última permissa resulta, por um lado, o elevado número de desempregados que se tornam pirómanos, e, por outro, aqueles a quem foi recusado o ingresso numa corporação de bombeiros, sendo que, neste último caso, é típico serem os primeiros a dar o alerta e colaborarem activamente na extinção do incêndio que atearam.
Mas também o problema de serem em grande percentagem alcoólicos deriva sobretudo da exclusão social ou familiar e da dificuldade em encontrar ou manter um emprego, tal como sucede com tantos indivíduos que enfrentam este problema, sendo que vem mais uma vez encaixar na dificuldade de aceitação e na incapacidade de resolver os próprios problemas, seja em termos relacionais, seja profissionais.
Finalmente, a questão da fraca personalidade que os estudos apontam acaba tanto por ser causa como consequência no comportamento dos pirómanos, já que da sua personalidade decorre a já mencionada dificuldade de integração e, por outro lado, a quase impossibilidade de resistir à tentação de praticar um crime que permita uns momentos de protagonismo que o tornem visível aos demais membros da comunidade onde se tenta inserir, tentando assim facilitar a sua integração.
Num Interior desertificado, com poucas oportunidades, onde a exclusão impera, infelizmente este é um perfil que, ao contrário do que se pode pensar, terá tendência a aumentar, colocando em perigo o que resta das comunidades que ainda resistem ao isolamento e à falta de perspectivas de futuro.
Neste breve estudo, sem derimir responsabilidades individuais, falta lembrar as que imputamos às políticas de quem votou o Interior ao abandono, criando assim as condições materiais para que os incêndios progridam por entre terras abandonadas onde é cada vez mais difícil encontrar condições dignas para viver.