Incêndio fora de controle no Verão de 2005
A área florestal consumida pelas chamas neste semestre já ultrapassou a média registada nos últimos cinco anos.
Apesar da aposta do
Governo no reforço da vigilância e do combate aos incêndios, em apenas um mês foram devastados 6.799 hectares de floresta, enquanto a média dos últimos cinco anos foi de 3.846 hectares, transformando Maio num dos piores de sempre e fazendo antever um Verão negro.
O segundo relatório da
Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF), que contém estatísticas até ao dia 15 de Junho, reporta um total de 8.918 hectares queimados, cerca de 200 hectares acima da média de 2000-2005.
Em contrapartida, se a comparação for feita com o ano passado os dados podem até parecer animadores, dado que em 2005, por esta altura, já tinham sido reduzidos a cinzas mais de 20.000 hectares de floresta.
Mas os primeiros meses de 2005 foram considerados excepcionais e fora da média, contando com mais de 8.000 ocorrências e até com a morte de quatro bombeiros.
Os dados mais preocupantes deste relatório reportam-se ao período entre 15 de Maio e 15 de Junho, exactamente um mês após o início da "
Fase Bravo", de acordo com a directiva operacional, pois a área ardida apenas 30 dias representa 76% do total.
Contactado pelo
Diário de Notícias, o
Ministério da Administração Interna (MAI) ressalta, contudo, um aspecto positivo que contribui para a compreensão destes números.
Este ano houve muito mais ocorrências, 3.805, quase o dobro da média registada nos últimos cinco anos e que serve de base às comparações feitas pela
DGRF, o que segundo o
MAI, prova que a "
eficácia da primeira intervenção no fogo está a ser de 98%".
"
O grosso do risco ainda vem aí, porque, em rigor, o Verão começou hoje", diz o presidente da
Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), Duarte Caldeira.
A área ardida no último mês foi quase o dobro da média dos últimos cinco anos em igual período porque "
na primeira quinzena de Junho tivemos um grave incêndio em Fragoso, Barcelos, que durou quase quatro dias", garante o dirigente da
LBP.
Este
incêndio lançou novamente a polémica em torno da utilização dos meios aéreos, pelo que, no rescaldo deste fogo e depois de um mês de Maio particularmente preocupante, o
Governo apressou-se a reforçar os meios aéreos, antecipando a chegada de dois aparelhos previstos apenas para a "
Fase Charlie", que começará no dia 1 de Julho.
Para Duarte Caldeira, "
temos pela frente os meses de mais elevado risco, Julho e Agosto, e qualquer consideração sobre os resultados é prematura", que considera que "
há pouco tempo para que as medidas tomadas possam alterar o perfil de risco da floresta portuguesa".
Também o ministro da
Administração Interna considerou que ainda é cedo para tirar elações, facto que parece ser consensual quando estamos a uma semana do início da "
Fase Charlie", altura em que o dispositivo estará completo e se preveem as condições atmosféricas mais adversas.
Verifica-se, no entanto, que com o aumento de temperatura dos últimos dias, o número de ignições voltou a aumentar sendo de prever que esta tendência continue até aos pico do Verão, altura em que se poderá aferir da correcção ou não das opções tomadas.