Área queimada de gravidade média
O presidente do
Instituto para a Conservação da Natureza (ICN), João Meneses, anunciou a criação em 2007 de um "
plano de potenciais aceiros, referenciados por GPS, que poderão ser automaticamente abertos, sem quaisquer complicações, caso se revelem importantes para o combate a um incêndio" nas áreas protegidas para facilitar o combate aos incêndios florestais.
João Meneses, que falava em Castro Laboreiro, no concelho de
Melgaço, no final de uma visita da
Comissão Parlamentar Eventual para os Fogos Florestais às áreas ardidas do
Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), admitiu que "
há algumas dúvidas dentro do ICN" quanto à necessidade de abrir novos aceiros e estradas nos parques naturais, por se ter chegado à conclusão de que "
o homem os destrói mais do que o fogo".
Em relação aos pontos de água, o presidente do
ICN referiu que os existentes nas áreas naturais "
são suficientes", excepto quando acontecem incêndios de grandes dimensões, pelo que deu primazia à utilização de estruturas amovíveis, que possam ser deslocadas para onde forem mais necessárias.
Segundo o director do
PNPG, Henrique Pereira, os incêndios de Agosto consumiram cerca de 3.600 hectares do único parque natural português, mas ressalvou que cerca de 90% da área ardida era apenas de mato, "
pelo que a sua recuperação será rápida" e sucederá "
já a partir do próximo ano".
Quanto à reserva integral do Ramiscal, onde ardeu cerca de 75% dos seus 300 hectares, Henrique Pereira disse "
ter expectativas" de que, por se tratar de uma zona de carvalhos, também venha a recuperar "
rapidamente", admitindo que dentro de quatro a cinco anos a área florestal já estará "
totalmente reposta".
"
Mais complicada" afigura-se a situação da Mata do Mezio, onde arderam cerca de 200 hectares de resinosas, cuja esmagadora maioria terá de ser cortada, prevendo-se que, naquele espaço, a reflorestação integral demore entre 15 a 20 anos.
O fogo que atingiu o
PNPG começou no dia 6 de Agosto, ainda fora do parque, uma situação que, como referiu o presidente do
ICN, ocorre muitas vezes naquela e noutras áreas protegidas do País, o que "
obriga a pensar, em conjunto com as câmaras municipais, numa estrutura que saia fora do parque e faça a monitorização e vigilância" nas áreas limítrofes.
No entanto, reconheceu que "
houve coisas que correram menos bem" no combate ao incêndio no
PNPG, quer ao nível da coordenação, quer em termos de logística, mas garantiu que se está "
a tentar emendar" para que o próximo ano seja melhor para as áreas protegidas.
Dirigindo-se de uma forma especial aos deputados do
Partido Social Democrata (PSD) que fazem parte da
Comissão Parlamentar Eventual para os Fogos Florestais, os quais acusaram o
ICN de "
nem fazer nem deixar fazer nada" nas áreas protegidas, João Meneses disse perceber "
a lógica política que está por detrás" dessas declarações, mas instou-os a parar de "
bater no ceguinho", considerando que "
a realidade é que, no concreto, quando se vai ver o que é que o ICN não deixou fazer, chega-se facilmente à conclusão de que deixou fazer quase tudo".
No entanto, o facto é que se o
ICN "
deixou fazer quase tudo", a verdade é que quase nada foi feito e a opção, que pode ser considerada radical ou fundamentalista, de dificultar os acessos de modo a evitar incêndios provocados pela acção humana, demonstrou ser errada quando avaliados os resultados.
Verificou-se que facilmente os fogos começam em zonas acessíveis e de propagam depos às que não têm acessos, sendo que a partir daí só com grandes dificuldades e o apoio de meios aéreos se podem deter as chamas, normalmente após dias de sucessivos avanços e recuos pautados por numerosos reacendimentos.
Após os incêndios em áreas protegidas que ocorreram este verão, não é difícil perceber que existe uma óbvia asfixia financeira que impede o
ICN de cumprir as suas obrigações e que as zonas que dependem deste organismo estão deficientemente cuidadas e praticamente sem vigilância, pelo que a teoria da protecção através da inacessibilidade humana não passa de um logro no qual já ninguém acredita.
A existência de fogos em zonas inacessíveis é uma inevitabilidade e irá acontecer mais cedo ou mais tarde, pelo que, para além de uma política de prevenção séria, que exige recursos financeiros, devem ser criadas as condições que permitam um combate eficaz e com riscos reduzidos para os intervenientes, sob pena de em breve não haver áreas protegidas dignas desse nome.