sexta-feira, agosto 25, 2006

A verdade a que temos direito?


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Telejornal: a verdade a que temos direito?

O facto de, numa semana particularmente trágica, os incêndios florestais terem sido remetidos na televisão pública para um lugar secundário nos noticiários, onde escassos minutos sem nenhuma intervenção em directo serviram para dar uma pálida imagem da realidade, pode levantar suspeitas quanto aos critérios informativos da televisão pública ou mesmo da relação entre esta e o poder.

Relativamente a este caso, e às acusações feitas contra a RTP, sabe-se hoje que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social irá proceder a audições e avaliará os critérios que presidiram ao alinhamento das notícias, pelo que esperamos pelas conclusões para melhor ajuizar da posição da televisão pública.

Também a possibilidade de um diálogo ou acordo entre as várias estações televisivas, no sentido de limitar ou condicionar as imagens, acabou por se revelar sempre impossível, dadas as imposições resultantes da constante procura de aumento de audiências, não tendo chegado a haver, sequer, reuniões nesse sentido.

Mas igualmente grave, é o facto que tantas vezes mencionamos de não haver qualquer interesse mediático pelos fogos excepto quando estes se verificam, pelo que a falta de prevenção de que hoje nos queixamos pode ser imputado, em larga escala, a critérios que seguem esencialmente as audiências e não o interesse nacional.

No entanto, mas mais grave do que as duvidas relativamente aos critérios noticiosos da RTP, o facto de a Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF), orgão dependente do Ministério da Agricultura, não ter concluido atempadamente a inventariação das áreas ardidas, muito após as entidades europeias o terem feito, revela algo muito mais perigoso do ponto de vista informativo.

Aliás, nas últimas horas, concretamente desde que tentamos na tarde de quarta-feira e até à madrugada de sexta, foi impossível aceder ao "site" da DGRF de modo a consultar a informação pretendida.

Neste caso, estamos a falar de dados oficiais, os únicos que permitem uma avaliação objectiva a nível nacional, os quais se devem caracterizar pelo rigor, sem nunca omitir os resultados dos grandes fogos que, por alegada dificuldade de avaliação, não foram incluidos nas últimas estatísticas.

Mesmo admitindo a dificuldade de avaliar com rigor uma extensa área ardida, as imagens de satélite disponíveis permitem facilmente incluir uma avaliação perliminar muito aproximada, que poderá ser rectificada após um trabalho de campo cuidadoso, mas a omissão pura e simples dos incêndios que mais influenciam as estatísticas parece não passar de uma manobra que se destina a ocultar a verdadeira área ardida.

Aqui, já não estamos diante de suposições ou de meros critérios jornalísticos, mas de uma postura oficial, devidamente sancionada pela estrutura hierárquica, que pode reduzir, mesmo que temporariamente, a área consumida pelas chamas ou diluir no tempo a sua divulgação, de modo a que a suposta eficácia no combate seja dificilmente avaliada e possa permanecer como um dos mitos deste Verão.

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