Durante anos, as cheias em Lisboa foram atribuídas a uma espécie de destino ineludível, uma fatalidade consubstanciada em S. Pedro, o ininputável, como forma de afastar responsabilidades ou evitar assumir os pesados encargos de uma obra subterrânea, que, sendo quase invisível, pode não ter o impacto eleitoral que muitos previlegiam em detrimento do bem dos eleitores, no que não passa de uma manobra de propaganda que preferimos não qualificar.
Ao invés de se resolverem os problemas estruturais da cidade, e não é apenas este, a opção foi por permitir uma construção desenfreada, sacrificando os residentes em detrimento de um modelo económico baseado no turismo, em nome do qual, como se fosse a salvação da cidade, tudo foi permitido, com um impacto gravissímo a nível social, obrigando à saída de centenas de milhares de lisboetas, enquanto a Lisboa se artificializava, perdendo as suas características, convertendo-se numa espécie de ressort onde apenas turistas são benvindos.
Dificilmente se vão reverter os erros cometidos durante os anos mais recentes, altura em que foi permitido edificar em locais onde tal nunca devia ter sido autorizado, tais as consequências para a cidade e para os seus residentes, mas podem-se mitigar as consequências, com sistemas de escoamento alternativos e evitar novos erros, gerindo o espaço urbano de forma mais racional e numa perspectiva de longo prazo.
Entretanto, a cidade vai continuar em risco, e com sérios prejuízos quando chuvas particularmente intensas se conjugam com a maré cheia, esperando-se que dentro de pouco mais de dois anos, com a conclusão das obras anunciadas e que há muito foram prometidas e já deviam estar concluídas, as inundações que assolam Lisboa desde há muito tenham um muito menor impacto na vida e nos bens da sua população, terminando com um ciclo que tendia a eternizar-se.
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