Temos visto muitos que se interrogam se os fogos são causa ou consequência, ou seja, se destes decorre o abandono do Interior do País, ou se é precisamente porque este se encontra desertificado e economica e socialmente depauperado que os incêndios se multiplicam, atingindo áreas cada vez mais extensas que nunca são repovoadas em termos de quantidade e, sobretudo, de qualidade, comprometendo a sustentabilidade económica dos espaços rurais e a própria ecologia afectada, mas a resposta é habilmente evitada, muitas vezes através de sucessivos subterfúgios ou recorrendo ao tão comum argumento da falta de sorte.
Sendo os fogos uma consequência, tal deriva manifestamente de causas estruturais, que se prolongam no tempo e abrangem diversos governos, compromentendo todos quantos desempenharam funções executivas a este nível e em diversas áreas, que concorrem no sentido de gerar o actual cenário no qual os fogos são apenas um dos múltiplos resultados que se integram num todo complexo onde responsabilidades individuais raramente se apuram.
E assim, enquanto políticos e comentadores analizam quadros estatísticos, sondagens e previsões, construindo um quadro sobre o qual prevêm resultados eleitorais, um único factor, por muitos negligênciado, pode comprometer todos os extensos cálculos e destruir, de uma só vez, todos os cenários criados, invertendo um percurso considerado como seguro e resultados dados como adquiridos.
No termo do Verão, teremos, portanto, a oportunidade de analisar o impacto que os fogos tiveram e se estes não foram a versão portuguesa do 11 de Março espanhol, revertendo resultados e lançando o caos entre a classe política, podendo ter efeitos que, para além das eleições legislativas, podem sentir-se nas mais distantes presidenciais, cujos candidatos, mesmo os não declarados, não deixarão de ser julgados pelo eleitorado pela forma como encararam e viveram este período de incêndios.
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