sexta-feira, setembro 04, 2020

"Estado de contingência" a partir de 15 de Setembro - 3ª parte

Portanto, temos que nos interrogar se estamos diante de uma medida de saúde pública ou de uma operação de mera antecipação de um potencial perda de popularidade quando a crise se sentir com maior intensidade e a contestação aumentar, algo que o próprio Governo, indirectamente, confessa ao tentar, a todo o custo um acordo político que garanta uma maioria durante a duração da legislatura.

Seguindo esta teoria, o anúncio de uma medida aparentemente enérgica, como o "estado de contingência", mas sem lhe conferir conteúdo, serve o propósito político, sem que daqui decorram consequências nefastas em termos de saúde pública, a qual só será afectada quando e se ao abrigo deste estado de excepção forem impostas restrições que, aparentemente, o Governo quer evitar, sob pena de prejudicar uma economia já de sí devastada.

Dado que o facilitismo e o seguidismo que caracterizaram a acção governamental na altura da chegada da pandemia e a incapacidade de planear uma resposta efectiva para a invitável conjugação da chegada de uma segunda vaga de infecções e do degradar das condições de vida das populações, ainda sem ter recebido as verbas prometidas pela Comunidade Europeia e sem possibilidade de decretar um novo confinamento, aproximamo-nos do caos governativo, bem patente nas reacções de membros do Governo, sendo as feitas pelo Primeiro-Ministro relativamente aos médicos o exemplo mais evidente.

Sem grandes alternativas, confirmando as más escolhas para muitas das pastas ministeriais mais importantes, mas tentando um acordo que permita sobreviver até ao final da legislatura, mesmo que enfrentando uma possível ira popular, continuamos a assistir ao anúncio de medidas avulsas, desenquadradas de qualquer estratégia e de uma visão integrada e objectiva da realidade nacional, antevendo-se um rápido degradar da situação política e uma severa crise económica e financeira.

Sem comentários: