O desistir de viver, de forma activa ou passiva, é um fenómeno, ou uma atitude, considerada como uma questão de honra, decidida pelo próprio, embora por vezes com algum tipo de cumplicidade de terceiros, em situações de carência, doença ou quando da sua existência resultam encargos insustentáveis no meio familiar, sendo, naturalmente, ocultado por todos quantos tenham conhecimento ou sejam beneficiados por esta acção.
Admissivelmente, na actual conjuntura, com decréscimo de rendimentos, penalizações diversas, aumento de encargos e, o que pode ser decisivo, socialmente estigmatizados, muitos idosos aceitam pacificamente, quando não procuram, um fim que surge como um misto de alívio e de recuperação da honra, sentida como perdida por quem já não consegue depender de sí próprio.
O degradar das condições de vida dos segmentos mais vulneráveis da sociedade, a impossibilidade de apoio por parte dos familiares mais próximos, eles próprios desprovidos de recursos, o corte ou reduções sucessivas de prestações sociais, a incapacidade de as instituições de solidariedade prestarem apoio a todos quantos a elas acorrem, são factores que em muito contribuiram para o aumento do número de óbitos, sobretudo entre quem tem mais de 75 anos e, apesar dos anos que poderia ter pela frente, pouco interesse teriam em vivê-los.
As reais causas deste elevado número de óbitos, e o desvio relativamente aos números para esta época do ano, que face aos avanços da medicina e aumento da esperança de vida deviam evoluir noutro sentido, foram algo negligenciadas, passando sem uma discussão que escurtinasse e avaliasse o porquê de uma situação que, exceptuando algumas breves notícias, passou relativamente desapercebida, sendo quase ignorada pela maioria dos portugueses, mais centrados em questões que mais directamente os afectam.
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