Aliás, na visita de membros do Governo às zonas afectadas, para além das intenções, era manifesto que não estava estabelecido qualquer plano, nem sequer em linhas gerais ou nos seus conceitos mais básicos, algo que ficou bem patente na forma abstracta como os anúncios iam sendo feitos, sem que fossem sustentados por dados concretos, envelope financeiro ou calendário de implementação, remetendo os apoios para linhas já existentes, eventualmente desburocratizando o acesso a estas.
A revolta das populações e de diversos autarcas, a prudência do Presidente da República, que afasta triunfalismos obviamente injustificáveis face à devastação, ou a perspectiva triunfante do Governo são, nesta altura, contradições inevitáveis, face a interesses conflituantes ou à necessidade de estabelecer uma trégua enquanto o combate ainda recentemente decorria e o apuramento dos factos ainda permite todas as especulações, mas este é um assunto que, tal como as tragédias do ano passado, não acabará aqui.
Não temos dúvidas que, face à ausência de vítimas mortais, o impacto destes fogos será muito inferior ao que resultou das tragédias do ano passado, mas face à devastação e ao número de afectados, alguns dos quais perderam tudo o que possuiam, e às consequências na economia de toda uma região, será necessário que o processo de reconstrução e reordenamento seja devidamente acompanhado, sem o que este pode cair no esquecimento ou, pura e simplesmente, repetir os erros do passado.
O impacto real do fogo em Monchique demorará a ser apurado, e dependerá em muito da existência ou não de outros grandes incêndios, de se verificarem ou não vítimas mortais, e da forma como o dispositivo e o próprio poder político enfrentarem as situações com as quais se irão deparar, sendo certo que a tolerância da opinião pública tem vindo a diminuir, pelo que situações que apenas suscitavam resignação e tristeza podem agora resultar em revolta.
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