quarta-feira, outubro 10, 2018

Acusar o mexilhão - 4ª parte

Argumentar com uma injustiça, ou um tratamento desigual, para ilibar quem foi agora acusado, faz tão pouco sentido como afirmar que, porque um criminoso não foi apanhado, ou as provas que existem contra ele são insuficientes para o levar a julgamento, outro, relativamente ao qual existem provas, não deve ser acusado, sob pena de cometer uma injustiça.

Por em causa ou diminuir a capacidade técnica e científica de quem procedeu à investigação ou produziu os relatórios, e relembramos que entre estes se encontram diversos especialistas de renome, alguns dos quais desempenharam funções de elevada responsabilidade a nível de protecção e socorro, é um péssimo argumento, prontamente desmentido pela realidade e que contamina toda a subsquente argumentação, independentemente da sua valia.

Quando observamos o cenário de forma mais abrangente, tendo em conta a atribuição de recursos, as medidas estruturais, ou a falta delas, a legislação em vigor ou as estratégias e planos superiormente decididos, seja nas empresas a que pertecem os acusados, seja nas instituições, como corpos de bombeiros ou a própria Protecção Civil, facilmente nos apercebemos que quem permitiu que os factores não naturais confluissem e potenciassem o que resultou numa tragédia, ficaram efectivamente de fora, não tendo sido acusados ou, sequer, responsabilizados.

Esperamos que, em fase de julgamento, e face à prova produzida, sejam extraídas as certidões que permitam acusar quem, protegido pelas sucessivas barreiras institucionais, não obstante a sua responsabilidade no sucedido, não foi agora acusado, repondo assim alguma justiça e demonstrando que ninguém está acima da lei, independentemente do seu cargo ou função.

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