sexta-feira, novembro 23, 2018

Até onde se deve ir para recuperar corpos? - 2ª parte

Não há soluções simples, e menos ainda ideais, sendo que cada caso tem as suas especificidades e envolvência própria, que vai muito para além da realidade objectiva, sendo necessário equacionar todo um conjunto de situações de avaliação muito subjectiva e tão inquantificável como o sofrimento resultante da perda de entes queridos, pelo que o estabelecimento de regras, defenidas e parametrizadas, resulta complexo, no limite impossível.

Apesar destas óbvias dificuldades, face ao tipo de risco presente, que podem agravar o estado dos que já sofrem e trazer sofrimento a outras famílias, e ao tipo de recompensa resultante, que nunca passa de um mero atenuar da dor, esta é uma realidade que deve ser abordada, preferencialmente com alguma distância temporal face a ocorrências deste tipo, e tentando, tanto quanto possível, algum afastamento de casos concretos, que tendem, ao trazer casos pessoais, contaminar o que se pretende ser uma reflexão objectiva.

Estas são situações dramáticas para as famílias e para as populações, sobretudo em núcleos mais pequenos ou isolados, onde o conhecimento entre todos é maior e o relacionamento e interdependências mais intensos, acrescendo, naturalmente, factores como o número e mesmo a tipologia das vítimas, sendo exemplo a presença de crianças ou grupos organizados, e as circunstâncias do acidente, bem como a responsabilidade, numa perspectiva popular e imediatista do mesmo, agravando a complexidade do processo decisional.

Estamos conscientes das dificuldades, e mesmo da penosidade, da aplicação prática, em situações concretas, de um conjunto de determinações, das quais pode resultar a decisão de não proceder ao resgate de um ou mais corpos, algo que temos consciência ser particularmente duro para com os familiares das vítimas, mas que pode, no limite, ser a decisão mais correcta, protegendo a vida de quem a iria colocar em risco sem que das suas acções pudesse salvar a vida de outros.

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