Mesmo com uma área ardida superior à da totalidade ao ano passado, contada até 15 de Julho e uma devastação sem paralelo nos anos mais recentes, a maior desde o trágico ano de 2017, espera-se um discurso centrado em três vertentes, nomeadamente as condições climáticas, os investimentos realizados e os apoios a prestar a quem foi prejudicado pelos fogos, que antecipamos ser escasso, sobretudo tratando-se de danos colaterais, como cancelamentos de actividades, consubstanciado na declaração feita pelo Primeiro Ministro onde explicita que o Estado não é uma seguradora, o que exclui a sua responsabilidade na compensação dos prejuizos decorrentes das suas decisões, acções ou omissões.
Há décadas que Portugal navega à vista, com as decisões mais relevantes, mesmo quando urgentes, a serem continuamente adiadas, enquanto os problemas são apelidados de estruturais não pela sua importância, mas porque tal surge como uma desculpa quase perfeita, a do perigo de, ao mexer numa estrutura, por muito ruinosa que esta esteja, fazer colapsar todo um edifício que, naturalmente, irá, um dia ruir.
A falta de coragem para enfrentar problemas sérios, com todos os riscos que tal implica, incluindo o de errar e do erro resultarem consequências gravosas, particularmente sério quando a competência de muitos governantes é mais do que duvidosa, tem adiado sucessivamente o futuro do País, comprometendo o destino de uma geração a seguir à outra, enquanto Portugal mergulha num Inverno demográfico cuja inversão é cada vez mais difícil, enquanto fica refém de interesses inconfessáveis, que se interligam numa teia sucessivamente mais apertada de cumplicidades que tornam os responsáveis virtualmente inatacáveis.
Será, portanto, de esperar que, após poucos dias, e salvo novos eventos, o que é muito provável num Verão em que se antecipam diversas vagas de calor, estes dias de destruição serão rapidamente esquecidos, secundarizados por um conjunto de novos eventos igualmente preocupantes, como o disparar da inflação, cujo impacto no mês de Setembro poderá relagar para segundo plano outras situações e problemas, mesmo que particularmente críticos, que, mais uma vez, aguardarão meses até voltarem a ter direitos de protagonismo.
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