sexta-feira, junho 12, 2009

O perigo das divergências entre as sondagens e os resultados - 2ª parte


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Uma urna de voto

Esta situação surge, infelizmente, quando o clima político e económico condiciona o sentimento geral dos eleitores e restringe, de alguma forma, a forma de sentir a liberdade e o temor de manifestar claramente opiniões ou críticas que, de alguma forma, se oponham ao poder instituido e às teias de influência que dele emanam.

Interpretar a divergência com base no número de abestenções, como parece ser a mais comummente adoptada por comentadores e analistas, para além de redutor, aponta num sentido que nos parece errado, não só porque este nível de abstenções era previsto e noutras condições espelhava aproximadamente os resultados reais, como porque a sua distribuição pelas várias força políticas merece uma explicação mais elaborada.

Ir mais longe e atribuir às sondagens erros deliberados, estará, eventualmente, fora de questão, embora seja de reconhecer que existem erros flagrantes, por vezes repetidos e que empresas que falham sucessivamente continuam a ser escolhidas enquanto outras, que tendem a descrever melhor a realidade, são preteridas.

Sabendo-se, por sondagens, através de dados estatísticos e pelo próprio sentir, que o tráfico de influências, os favores pessoais e o poder da influência são determinantes, podendo condicionar a vida laboral ou carreira profissional e, consequentemente determinar o destino dos mais vulneráveis, é expectável e encara-se com naturalidade que estes não se exprimam livremente, mesmo que do facto não resultassem consequências directas.

Esta atmosfera, que pode ou não corresponder à realidade, mas que indiscutivelmente reflete o seu sentir, terá, portanto, uma influência directa nos erros de uma sondagem que, independentemente do rigor procedimental e do valor científico do modelo matemático, ao basear-se em dados objectivos, não pode incluir a distorção resultante da ocultação das reais intenções, as quais só serão reveladas na cabine de voto.

Mais do que os resultados em sí, esta divergência entre sondagens e resultados serve para aferir da qualidade da democracia que se vive em Portugal e do receio que muitos cidadãos sentem, coibindo-se de exprimir de forma livre, como é seu inequívoco direito, as ideias e opiniões que advogam, razão pela qual devemos reflectir seriamente no estado da Nação e interpretar as mensagens que vão surgindo.

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