sexta-feira, agosto 18, 2006

Falhanço nas campanhas de sensibilização


Image Hosted by ImageShack
Incêndio na Maia

A mensagem "Portugal sem fogos depende de si" inscrita nas campanhas de sensibilização deste ano não está a chegar aos destinatários e o Governo e os próprios "media" evidenciam erros de comunicação.

Se por um lado a banalização dos incêndios leva a considerá-los como uma inevitabilidade, algo a que estamos predestinados em cada verão, a falta de soluções credíveis e um alheamento por parte da classe política aquando das restantes épocas do ano leva a uma aceitação pacífica desta realidade.

A própria informação, centrada na desgraça que todos conhecemos, embriagada pela espectacularidade das imagens e pelo sentimentalismo fácil, acaba por enviar a mensagem errada, contribuindo para um fatalismo que só pode levar ao alheamento e à inação.

Mais grave, durante os longos meses em que não há incêndios, o problema é ignorado a ponto de ser esquecido, porque a prevenção não vende, não cativa audiências e, mais grave ainda, surge como algo distante que só a alguns diz respeito.

Obviamente, as mensagens têm que ser destinadas a quem pode, pelo seu comportamento, ter influência na existência ou não de incêndios, mas de forma mobilizadora e propondo a cada cidadão algo de concreto, que lhe permita fazer a diferença.

Não basta, como até hoje, solicitar uma chamada para um número de emergência ou, no limite inferior, agradecer alguma atenção com cuidados básicos, evitando acções negligentes, do que resulta uma perspectiva redutora, passiva e alheadora.

Mas, como a mobilização de cidadãos através de programas estruturados, que deverão estar ligados a autarquias ou patrocinados por entidades públicas ou privadas não têm apoio, quer por parte destas, quer do próprio Estado, que seria o principal interessado na solução deste problema, o qual se limita a apoiar algumas iniciativas do Instituto da Juventude que, em termos de eficácia, deixam muito a desejar, verifica-se uma desresponsabilização colectiva com os resultados conhecidos.

Segundo Duarte Caldeira, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), "somos cada vez mais espectadores deste problema. Assistimos ao drama dos incêndios pela televisão como se não fosse nada connosco", acrescentando que os portugueses, "apenas o fazem quando são vítimas das circunstâncias e o problema lhes bate à porta. Mas encaram isso como uma fatalidade. Os outros não mudam o seu comportamento, continuam apenas a lamentar o assunto."

Neste aspecto, discordamos profundamente do presidente da Liga, dado que não basta querer ajudar, é preciso saber como, aonde e ter um mínimo de preparação e enquadramento para o fazer, no que a LBP não tem primado pelo exemplo.

Concretamente, quando sugerimos diversos tipos de iniciativas à Liga, a serem desenvolvidas em parceria com empresas e autarquias, a resposta foi a de um total alheamento, sugerindo que as mesma propostas fossem enviadas a outra entidade, a Agência para Prevenção de Incêndios Florestais (APIF), entretanto extinta.

Por outro lado, conforme o sociólogo da comunicação José Jorge Barreiros, a cobertura noticiosa dos fogos é centrada em três abordagens: o drama das pessoas afectadas, o espectáculo das chamas e o funcionamento do dispositivo antifogos.

"Este tipo de abordagem é útil para sensibilizar mas não para transformar", defende este especialista porque, perante esta abordagem, "as pessoas entendem que é um problema que não é seu e que não podem resolver".

Tal corresponde, à perspectiva que temos e ao facto de a comunicação social ter contribuido, tal como outras entidades, para o agravar da situação, excluindo de toda e qualquer acção ou envolvimento quem não é directamente afectado pelos incêndios, excluindo uma perspectiva de abrangência e formas de participação dos cidadãos.

Se atentarmos ao facto de cada vez mais portugueses viverem nas cidades, enquanto o Interior se desertifica, a necessidade de uma mensagem mobilizadora tem, forçosamente, que incluir quem, aparentemente, estará mais distante, sempre na perspectiva de oferecer, em simultâneo, formas de participação activa.

Não é possível fazer passar uma mensagem pela negativa, dado que esta não atinge quem, pelo seu comportamento, a irá ignorar, e menos ainda quem, por seguir desde já as recomendações ou ideias propostas, à partida já dela não necessita.

A única mensagem que poderá ter acolhimento e ser mobilizadora destina-se a quem já cumpre o que consideramos ser a sua obrigação cívica, mas está disposto a ir mais longe, esperando apenas que exista uma proposta concreta e realista que vá de encontro aos seus anseios.

Esta foi a ideia que, desde o início, orientou as nossas propostas, as quais, passados estes dois anos, cremos manterem-se actuais, esperando um maior apoio para serem implementadas.

Sem comentários: