quinta-feira, agosto 17, 2006

Tensão no Governo devido aos incêndios


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António Costa cumprimenta elementos do GIPS

Tornou-se óbvio, ao longo dos últimos dias, que apenas o ministro da Administração Interna apareceu em público, enquanto os seus colegas da Agricultura e do Ambiente demonstravam a sua manifesta falta de peso político.

Quando apontou no sentido da falta de prevenção, António Costa empurrou as responsabilidades na direcção dos seus colegas de Governo, criando um clima de tensão no interior do executivo.

Se bem que nesta época, em que o combate tem que ser forçosamente priveligiado, será normal a primazia do ministro da Administração Interna, o facto é que, ao longo de longos meses sem chamas, pouco ou nada foi feito pelos ministérios competentes, pelo que é difícil não reconhecer a razão de António Costa perante a evidência da impossibilidade combater eficazmente as chamas.

Assim, António Costa surge como a face do Governo e, para o bem ou para o mal, como o responsável por esta campanha, algo que é manifestamente injusto dado ser, na nossa opinião e independentemente de concordarmos ou não com a sua política, quem mais se esforçou para que este ano houvesse uma diferença para melhor no combate aos incêndios.

Sabendo-se que os incêndios florestais, mais do que combaterem-se, previnem-se através de medidas que, demorando tempo a ser implementadas, devem ser planeadas e executadas com a devida antecedência, torna-se difícil justificar a inactividade dos ministérios da Agricultura e do Ambiente e o completo desaparecimento dos titulares das pastas que, provavelmente, estarão em vias de substituição.

As mesmas críticas foram sendo levantadas durante toda a semana pelos deputados da comissão eventual dos incêndios, levaram o secretário de Estado do Desenvolvimento Rural, adjunto de Jaime Silva, a reafirmar o empenho do seu ministério na prevenção dos incêndios, mas o títular da pasta continua ausente.

O facto de o ministro do Ambiente, Nunes Correia, ter partido de férias na sexta-feira após ter pedido ao seu secretário de Estado, Humberto Rosa, que interrompesse as suas e se deslocasse ao Parque Nacional da Peneda Gerês, só veio acentuar o mal-estar entre ministros.

Mesmo atenuando um pouco os atritos existentes com esta deslocação, o facto de o incêndio no único Parque Nacional português ter durado uma semana e destruido importantes áreas a nível ecológico, não evitou que se mantivessem críticas de falta de coordenação com outros ministérios e com os bombeiros, do que terá resultado grande parte da destruição.

"É fundamental termos um sentimento de comunidade. Mas o Governo só tem autoridade para obrigar os privados a fazer a prevenção das florestas, limpando as zonas de risco, se exercer uma acção pedagógica, adoptando ele também uma cultura preventiva. Obviamente, as entidades públicas devem ser exemplares. Só assim o Estado poderá exigir o mesmo aos privados", refere uma fonte do Ministério da Administração Interna.

"Este ano, como foi reconhecido por quase todos os observadores, existem meios qualificados para combater os fogos. Mas não basta combatê-los. É preciso prevenir as chamas e fazer uma gestão adequada da floresta", sublinhou uma fonte do Ministério da Administração Interna.

Ao chamar os jornalistas ao fim da tarde de domingo, o ministro António Costa quis sobretudo enviar uma mensagem quer à população, quer aos próprios colegas de governo, assumindo que nem tudo está a correr bem.

O facto apontar como principais deficiências questões relacionadas com a prevenção, enquanto elogia o dispositivo de combate é uma clara mensagem de desagrado dirigida aos responsáveis pela coordenação da prevenção na floresta e nas áreas protegidas, respectivamente os ministros da Agricultura e do Ambiente.

Enquanto se espera por uma reacção destes ministérios, é inegável que António Costa terá razão quando aponta nesta direcção, sobretudo sabendo-se que os incêndios se devem antes de mais prevenir e só depois combater, mas, por outro lado, é igualmente certo que o Governo, no seu todo, não deu passos neste sentido, concentrando-se no esforço a nível de combate e esquecendo premissas conhecidas por todos.

Seja devido à falta de peso político dos ministérios da Agricultura e do Ambiente quando comparados com o da Administração Interna, gerido pelo número dois do Governo, seja por uma opção colectiva de todo o Executivo, a aposta principal continua a ser na vertente errada, a única que nunca dará os resultados pretendidos na defesa da floresta portuguesa.

Espera-se que, com este manifesto desentendimento dentro do Governo, que em anos futuros haja uma maior vontade política de investir na prevenção, evitando assim que todo o peso caia mais uma vez sobre um dispositivo de combate que tem sofrido perdas humanas a um nível inaceitável.

1 comentário:

JAMS disse...

Mas o sr. ministro esqueceu tudo o que disse o ano passado.
eles tem todos fraca memória, aliás, perdem-na logo após a eleições. Só não se esquecem das coisas que lhes convêm.
Será que merecem ser nossos governantes?
ou nós é que os deviamos governar???JAMS