segunda-feira, agosto 14, 2006

Ministro admite falhas


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Fogos florestais continuam a não dar tréguas

O ministro da Administração Interna, António Costa, o rosto do Governo no combate aos incêndios, admitiu este domingo que o elevado número de alertas de incidências registadas na última semana demonstra que a "prevenção não produziu os efeitos desejados".

A afirmação de António Costa foi feita no final de uma reunião com responsáveis do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC), quando questionado sobre as causas que justificam que esta tenha sido a semana em que se verificaram mais ignições nos últimos cinco anos.

O ministro da Administração Interna atribuiu também ao "estado da floresta" a actual situação, lembrando como esta se encontra e o facto de só na sexta-feira, o SNBPC ter-se confrontado com 679 alertas de incêndio.

Com uma média de 500 ignições por dia, o ministro considerou que o SNBPC teve uma boa capacidade de resposta, sublinhando o "esforço extraordinário" das equipas de combate aos incêndios, que conseguiram que "nunca houvesse mais de 27 incêndios por dia para circunscrever", o que, na verdade, não tem valor objectivo, pois a extensão dos fogos é mais relevante do que o seu número.

"Vivemos nos últimos nove dias um número de ignição próximas das 500", afirmou o ministro, no final de uma reunião com responsáveis do SNBPC, que ao final do dia de sábado reduziu o nível de alerta de laranja para amarelo.

Comparando com os últimos anos, António Costa sublinhou que "a média de ignições foi claramente superior, mas os danos claramente inferiores", apesar de só na próxima semana serem divulgados dados concretos sobre a área ardida nos últimos dias.

Para o ministro, a actual situação demonstra uma "clara melhoria da capacidade de resposta dos meios", uma vez que até ao dia 31 de Julho tinham ardido 13.000 hectares e, nos outros anos, a média rondava os 70.000 hectares.

Para além de prematuras, estas declarações baseiam-se num sistema de cálculo que tem forçosamente de ser revisto, dado que valorizando apenas a área ardida e não comparando com a existente, nem descriminando o tipo de vegetação consumida, de pouco servem.

Também a prevenção foi negligenciada, tal como todas as questões relacionadas com o ordenamento do território ou com o desenvolvimento e protecção das zonas mais desfavorecidas e envelhecidas do Interior, pelo que não se podiam esperar outros resultados senão os que se verificam.

Aliás, António Costa, que recentemente responsabilizou as populações pela falta de cuidado na limpeza das matas, esqueceu-se das áreas que pertencem ao Estado, da responsabilidade das autarquias e da inacção do Governo, onde os Ministérios da Agricultura e do Ambiente parecem não ter qualquer peso político.

A própria dimensão dos incêndios, a que António Costa associa uma maior eficácia no combate, deriva, em grande parte, da existência de descontinuidades derivadas dos fogos dos anos anteriores, pelo que estamos diante de mais uma frase especulativa que carece de demonstração.

Quanto às perdas de vidas humanas, nomeadamente ao número de bombeiros mortos, preferimos nem comentar as palavras de um ministro que escamoteia esta realidade quando afirma que "em nove dias, não houve mortos nem feridos graves em combate", omitindo que sexta-feira morreu uma bombeira num posto de comando e ontem um bombeiro a caminho de um incêndio.

Brevemente, analisaremos mais em detalhe as razões de uma eventual diminuição da área ardida e proporemos uma fórmula de cálculo diferente, de modo a trazer alguma verdade a números que não traduzem a realidade que pretendem espelhar.

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