Aspecto dos carris da Linha do Tua
Para o professor de Geografia Física, que investigou o local do acidente não houve nenhuma colisão, mas "um fluxo de detritos que evoluiu e arrastou blocos de grande dimensão que deixaram a linha deformada, com uma barriga e descalça, provocando o descarrilamento".
O facto de não ter havido colisão de uma pedra, algo que consta do relatório da REFER, é demonstrado pelo facto que "não havia nenhuma pedra que tivesse tinta da carruagem", estando de acordo com testemunhos de sobreviventes do acidente que negam a existência de impactos directos na composição.
Este especialista, que estudou a área onde se deu o acidente durante 8 anos para a tese de doutoramento "As Bacias de Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Bragança e Vilariça - Estudo de Geomorfologia", salientou a contribuição de um sismo com a intensidade de 6.8 graus na escala de Ritcher, ocorrido em Portugal na véspera do dia em que ocorreu o acidente, o qual pode ter provocado a cedência ou a destabilização dos taludes.
Nesta zona de Trás-os-Montes existem duas falhas tectónicas e o sismo levou a reajustes internos que podem implicar alterações nos equilibrios e levar a instabilidades.
Mesmo considerando que o acidente foi uma fatalidade, José Gomes dos Santos alerta para a possibilidade de esta situação se repetir no futuro, pelo que é necessário adoptar medidas de prevenção, implementando um sistema de alerta capaz de monitorizar a linha e enviar mensagens de aviso caso se verifiquem alterações nas condições de circulação.
A implementação de um sistema de alerta, que segundo este especialista seria de fácil elaboração e baseado em GPS, é cada vez mais uma exigência nas ferrovias de maior risco, tal como acontece na Linha do Tua, onde a possibilidade de um aluimento e terras é bem real e a orografia determina que as consequências de um descarrilamento são particularmente graves.
No entanto, lembrando que o Governo, através do Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, solicitou à CP um estudo de viabilidade económica desta linha, a possibilidade de implementar um sistema de alerta parece remota, sendo mais provável, tal como tem vindo a suceder em múltiplas situações, encerrar esta via de comunicação para a qual existem poucas alternativas.
O acidente na Linha do Tua veio chamar a atenção para o estado de um conjunto de ferrovias sem condições mínimas de segurança, que servem um Interior cada vez mais desertificado, e cujo destino parece ser o encerramento, não obstante as consequências práticas e psicológicas para as populações que se sentem cada vez mais abandondas pelo poder central, facto que se traduz em votos de protesto e manifestações de repúdio pelas decisões que têm sido tomadas no sentido de eliminar equipamentos considerados essenciais.
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