domingo, agosto 07, 2005

Falta de visibilidade

O dia 4 de Agosto foi mais um dia de raiva enquanto assisti impotente a todo um País que arde, vítima do desleixo, da inoperância e da irresponsabilidade de todo um povo que não sabe dizer basta.

Mas deprimiu-me ainda mais a entrevista concedida pelo responsável pela Autoridade para a Prevenção de Incêndios Florestais, um general do Exército que certamente participou na Guerra Colonial mas é incapaz de aplicar os ensinamentos de anos de carreira a uma situação nova que decorre das funções que desempenha.

Questionado sobre a inoperância dos meios aéreos, respondeu o dito General que estes não podiam operar em condições de baixa visibilidade como a decorrente do excesso de fumo, o que impossibilitaria os pilotos de largar a água com a necessária precisão. E como as horas de voo são pagas a peso de ouro, como corolário de uma série de decisões que impede a Força Aérea de usar os kits de combate aos incêndios ou de existirem meios de combate do próprio Estado, sempre se poupa algum dinheiro público à custa dos bens dos particulares e de um maior risco para todos os envolvidos no combate às chamas. Lamentavelmente, é a luta contra o défice a falar mais alto do que o respeito pelas pessoas.

Esquece-se o entrevistado que mesmo durante a Guerra Colonial, devido à espessa vegetação, era prática corrente a Força Aérea ser orientada a partir de terra através de coordenadas que eram fornecidas via rádio, atingindo com precisão alvos que nunca chegavam a ser vistos do ar. Na altura a eletrónica disponível era francamente inferior à actual e as coordenadas eram lidas em mapas militares e transmitidas via rádio, correndo-se o inevitável risco de serem mal calculadas ou de haver dificuldades de transmissão que as tornavam imperceptíveis.

Hoje em dia, as comunicações são francamente melhores, raramente caem ou estão indisponíveis e a qualidade do som permite evitar a maioria dos erros de percepção. Por outro lado, a existência de GPS portáteis a baixo preço permite que as coordenadas sejam facilmente visualizadas quase sem margem de erros, mesmo por parte de utilizadores inexperientes, guiando com precisão e celeridade os meios aéreos mesmo em condições de visibilidade nula. E caso se opte por gastar uma centena de contos, pode-se ter acesso a um PDA com GPS e a mais recente cartografia digital, capaz de orientar com uma precisão quase absoluta qualquer descarga de água sobre o menos visível dos objetivos.

Já agora, só para terem uma escala de comparação, a cada hora de voo corresponde em média cinco PDA com GPS e cartografia digital ou, pasme-se, mais de uma vintena de GPS portáteis sem cartografia. Se imaginarmos o acréscimo de precisão dos meios aéreos, facilmente se verifica que é um bom investimento que, infelizmente, pode não servir os interesses obscuros que estão ligados a toda esta tragédia dos incêndios florestais.

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