domingo, agosto 07, 2005

Gestão de efectivos


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Bill Stormont


Da estrutura organizativa criada para combater os incêndios florestais, resulta que cada distrito tem um coordenador, cuja função se torna especialmente necessária quando estão envolvidas diversas corporações e meios auxiliares. Este, mais do que um responsável operacional, função que deve ser deixada aos comandantes das corporações que se enontram no terreno, deve ser um gestor de recursos, com o afastamento e a visão estratégica necessária para tomar algumas das opções que dificilmente podem ser deixadas à responsabilidade de quem, por estar demasiado próximo do fogo e sujeito às pressões de populações, autarcas e bombeiros se vê sob uma pressão que diminui a objectividade.

Um dos erros mais clamorosos da falta de uma gestão centralizada acaba por ser o empenhamento da totalidade dos meios disponíveis à medida que estes vão chegando às áreas de intervenção e a sua manutenção em permanência na linha de fogo, independentemente da quebra de rendimento resultante de uma exessiva fadiga a nível físico e psicológico.

Normalmente, e devido à própria organização e estruturação dos Corpos de Bombeiros, estes chegam às zonas de incêndios desfasadamente, muitas vezes com horas de intervalo. Desta forma, quando os últimos reforços chegam, já os primeiros podem estar em acção há algumas horas e começas a apresentar os primeiros sinais de fadiga. Nesta altura, os recém chegados devem substituir o primeiro contingente a chegar através de um esquema de rotação, de que resulta a retirada temporária dos elementos mais desgastados. Tal é sobretudo difícil de aceitar quando existe escassez de meios e desespero por parte das populações, mas fazer avançar todos os meios disponíveis irá resultar, num curto espaço de tempo, em situações particularmente gravosas que se traduzem num maior risco para a segurança de todos quantos estão nas linhas de fogo e na impossibilidade de prolongar de forma eficiente as operações. No entanto, a falta de um sistema de rotação levanta várias deficiências que podemos enumerar.

A primeira, e mais óbvia, é a falta de uma reserva táctica imediatamente disponível e capaz de intervir em caso de urgência. Assim, quando é necessário alterar o dispositivo, não resta outra opção senão a de retirar efectivos de uma frente, desguarnecendo-a e deitando a perder o trabalho realizado, permitindo reacendimentos fáceis, os quais derivam não tanto de actos criminosos, embora os haja, mas de um trabalho de rescaldo incompleto.

A segunda é o extremo cansaço decorrente de longas horas de trabalho físico intenso e de exposição ao perigo, sem que sejam efectuadas pausas quer para descanço quer para alimentação, Tais pausas, que deviam ocorrer no máximo a cada duas horas, só são possíveis sem comprometer a eficácia das operações, caso exista uma reserva disponível para efectuar esta rotação e da sua não realização irá resultar, tal como se tem assistido, a um colapso generalizado e a uma substancial diminuição da capacidade operacional. Disto resulta que, mesmo quando se fala em três mil bombeiros envolvidos, após um longo período sem rotação de efectivos e de deficiente alimentação, estamos perante uma escassíssima eficiência e a impossibilidade de saber, em termos reais, quantos efectivos e em que condições ainda estão disponíveis.

Uma terceira é a logística, nomeadamente o fornecimento de alimentos, bebidas e todas as infraestruturas e material de substituição, bem como o fornecimento de água para os autotanques. Esta tarefa, que não deve ser da responsabilidade dos bombeiros, podia facilmente fiar a cargo de serviços municipais ou, no limite, de organizações baseadas em voluntários, evitando assim quer o desperdício de recursos operacionais em tarefas de segunda linha, quer o actual caos, onde os abastecimentos dependem em grande parte da boa vontade e disponibilidade das populações, assistindo-se a situações em que bombeiros, sugeitos a um contínuo esforço físico, passam horas sem alimentos.

Muitas outras falhas podiam ser apontadas, umas sendo visíveis de forma quase intuitiva, outras carecendo de uma análise mais profunda que só após o termo deste Verão será possível efectuar e muitas ainda que constam do Livro Branco publicado na sequência dos incêndios de há dois anos e nunca foram levadas à prática.

Lamentavelmente, há quem seja responsável por todo este planeamento e, ano após ano, não consiga aprender, já que não através de um estudo persistente e aturado, pelo menos pelas trágicas experiências que se repetem. E nem sequer estou a falar de algo particularmente complexo, mas de uma mera observação da realidade e de um pouco do bom senso que parece faltar.

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