domingo, dezembro 31, 2006

6 pescadores morrem por falta de socorro


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Um Allouete sobrevoa a embarcação naufragada

Não sendo a nossa especialidade, não podemos, no entanto, de aqui mencionar o trágico naufrágio de que resultou a morte de seis pescadores e que evidencia um conjunto de carências e de falhas indisfarçáveis a nível do socorro em Portugal.

Em primeiro lugar, temos que contestar a exagerada demora na chegada de meios de socorro eficazes, nomedamente de um helicóptero de busca e salvamento baseado no Montijo.

Para além do tempo de voo, demasiado longo quando se trata de uma missão de socorro, a falta de um aparelho em estado de prevenção, pronto a descolar em poucos minutos, contribuiu grandemente para o desfecho que conhecemos.

Segundo o grau de prontidão actual, demora cerca de uma hora a colocar no ar um dos novos Merlin, que vieram substituir os velhos Puma, sendo este tempo gasto em procedimentos de abastecimentos, de verificação, de equipar a tripulação, pelo que os quarenta minutos decorridos neste caso concreto podem ser consideramos dentro dos discutíveis parametros actuais.

Se compararmos com o grau de prontidão demonstrado este Verão pelas equipas do GIPS da Guarda Nacional Republicana, que em cerca de cinco minutos estavam no ar, devidamente equipadas para atacar incêndios nascentes, podemos aferir do absurdo que representa esta demora em fazer descolar meios de salvamento aéreo.


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A "Luz do Sameiro" à mercê das vagas

Por outro lado, a concentração de meios na Base Aérea do Montijo, onde está sedeada a esquadra, pode facilitar a organização ou a logística, reduzindo custos, mas anula o propósito de manter uma unidade capaz de actuar em missões de salvamento em todo o território nacional.

Lembramos que não é apenas no caso de naufrágios que este tipo de missão de salvamento é necessária, pois caso um dos aparelhos baseados na Base Aérea de Monte Real, perto do local onde morreram os pescadores, caisse no mar, a tripulação enfrentaria uma dificuldades semelhantes.

Também não podemos deixar de lamentar a falta de sensibilidade de diversos responsáveis, para os quais a forma de socorro, por se enquadrar dentro dos parâmteros estipulados, é descrita como assumindo contornos de normalidade, aceitando de forma acrítica a possibilidade de se perderem mais vidas humanas como consequência dos procedimentos em vigor.

Finalmente, devemos insistir na responsabilização de quem, por incúria, incompetência ou incapacidade, demonstra ser incapaz de gerir um sistema de socorro integrado, sendo absolutamente essencial que haja a sanções a nível político e criminal que sempre devem resultar da perda de vidas humanas nestas circunstâncias.

O socorro em Portugal necessita, obviamente, de ser objecto de uma análise, que proponha alterações profundas, e de medidas enérgicas que as implementem, sob pena de continuarmos a assistir, impotentes, à morte de concidadãos que desaparecem diante dos nossos olhos sem que nada seja feito para os salvar.

3 comentários:

Reinaldo Baptista disse...

Parece que todos partilhamos as as mesmas opiniões, falhou tudo, desde dos meios aéreos, aos meios marítimos e aos meios terrestres, foi uma situação que mostra como Portugal é frágil na aérea do socorro.

Unknown disse...

Começo por manifestar a minha indignação e pesar pela perda desnecessária de vidas.
Lamento também que se façam comentários menos informados acerca da prontidão da esquadra 751, durante o dia o alerta descola até 30 minutos e fora das horas de serviço até 45 minutos após a ordem de saída.
Também só a falta de informação pode levar à comparação dos tempos de prontidão de dois helicópteros com graus de complexidade tão dispares, comparando também as missões que no caso do GIPS se resume a uma única missão(combate ao fogo)numa área delimitada(30Km)com missões que podem ser medevac ou busca e salvamento em todo o território continental e até às 200Nm da costa. Estes tempos de resposta incluem planeamento da missão e alterações da configuração da aeronave que obviamente os 5 minutos de tempo de resposta do GIPS não contempla.
Talvez se deva apontar baterias para os tempos de resposta da coordenação dos meios!
Outro ponto que me parece pertinente é a capacidade própria de salvamento, tais como a existência de balsas salva vidas e coletes a bordo dos navios.
Aparte estes considerandos, não posso estar mais de acordo com os últimos três parágrafos do artigo!

Nuno Cabeçadas disse...

Não há falta de informação quanto aos tempos de intervenção dos meios da Esq. 751, pois, são incompatíveis com as necessidades do socorro, pelo que os resultados estão à vista.

A complexidade da missão não justifica a distribuição de meios, demasiado concentrada no território continental, nem o planeamento, o tempo que demora a colocá-los no ar.

Este naufrágio aconteceu num ds locais onde se impõe um planeamento prévio, dado serem repetidas as ocorrências nesta zona, sendo que durante o dia é possível recorrer a planos antecipados.

Quer os GIPS, quer os sapadores aerotransportados ultrapassaram largamente os 30 km em termos de intervenção, com tempos de resposta muito menores e a sua colocação no terreno e logística permitiu uma rapidez muito superior à verificada neste caso.

A responsbilidade não é apontada aos elementos da Força Aérea, que também são vítimas deste estado de coisas, mas a quem os dispôs e organizou da forma actual.