quarta-feira, fevereiro 28, 2007

"Arte de ser Chefe"


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Capa de "Arte de ser Chefe"

Embora existam no mercado diversos livros que abordam o tema da liderança, a esmagadora maioria estão orientados para uma visão empresarial, onde as características e as funções diferem em muito de um cargo de chefia operacional.

Com excepção de alguns livros de vocação estritamente militar, que fazem uso de um conjunto de prerrogativas inaplicáveis noutro tipo de organização, tem sido relativamente difícil de encontrar estudos que abordem os vários temas relacionados com a chefia e a liderança em funções operacionais, mas com uma independência relativa a uma legislação ou regulamentação que confere autoridade baseada unicamente na hierarquia.

As qualidades de um chefe, entendendo-se como tal alguém cuja capacidade de liderança depende de si próprio e não de uma nomeação, tal como acontece com um comandante, não são apenas inatas, mas podem e devem ser cultivadas e aperfeiçoadas.

Gaston Courtois (1897–1970), um psicólogo e clérigo francês, dedicou algumas obras a examinar quais as razões pelas quais um conjunto de qualidades e de características permite a um conjunto de pessoas serem líderes ou chefes, sem dependerem de qualquer nomeação ou do apoio de uma estrutura hierárquica, impondo-se e sendo seguidos de forma natural pelos restantes elementos do grupo.

O livro "Arte de ser Chefe", escrito originalmente em francês, reflete o pensamento e as meditações do autor, discutindo situações reais, muitas delas provenientes de exemplos militares, sob a perspectiva do efeito que os líderes tiveram no desempenho e na motivação dos seus subordinados, independentemente dos resultados que de tal resultou.

É sobre esta interacção e o papel do chefe como condutor de homens que Courtois analisa vários episódios, comparando situações de forma a tentar avaliar qual a influência de comportamenentos, atitudes ou decisões, diferenciando entre factores objectivos, como por exemplo a valia de uma decisão táctica, e a motivação que o decisor foi capaz de incutir no desempenho de quem executa as suas ordens.

O livro encontra-se escrito sob a forma de pequenas ideias ou conceitos, divididos por capítulos onde são abordadas diversas vertentes da liderança, sendo de muito fácil leitura e compreensão, mesmo que algumas das ideias do autor sejam discutíveis.

O facto de ter sido escrito em meados do século passado, num enquadramento histórico e cultural próprio de uma França que viveu duas guerras em pouco mais de duas décadas, influencia o autor, que, ao introduzir um conjunto de conceitos de ordem religiosa e moral, acaba por diminuir a universalidade da mensagem que pretende transmitir.

Sendo o tema da chefia delicado de abordar, não podemos deixar de sugerir uma visita aos alfarrabistas em busca de um livro em versão portuguesa, editado pela Livraria Sampedro em 1956, e que merece uma leitura atenta, sobretudo por parte de quem tenha responsabilidades de liderança.

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