A morte de uma idosa por falta de atendimento atempado nas urgências do hospital de Aveiro, volta a levantar questões repetidamente abordadas, mas que carecem de uma resposta credível por parte do Ministério da Saúde.
Neste caso concreto, o óbito verificou-se perto de 4 horas após a entrada da vítima nas urgências, tendo-lhe sido colocada, segundo o protocolo de Manchester, uma bracelete amarela, correspondendo a um estado de gravidade intermédia e um tempo de espera máximo de uma hora.
Lamentavelmente, o afluxo de pacientes foi anormalmente alto, o período expectável de atendimento largamente excedido e a idosa faleceu sem assistência médica, tendo o pessoal hospitalar sido alertado por outros doentes em maca que esta deixara de se mexer.
Se por um lado já ouvimos as condolências e um certo assumir de responsabilidades por parte da directora do hospital, também escutamos uma óbvia desresponsabilização de um ministro que sabe terem sido desactivadas unidades de saúde em áreas circundantes, resultando no aumento de utentes nas que ainda subsistem.
Também a Ordem dos Médicos (OM) já condenou esta política de encerramento de unidades ou de valências, que sobrecarrega as que se mantêm e que não receberam reforços em pessoal e meios de modo a responder atempadamente ao aumento se solicitações, com os resultados que agora começam a ser públicos.
Tal como seria de esperar, a OM iliba os médicos e o hospital de Aveiro e concentra as críticas e a responsabilidade no próprio Primeiro-Ministro e não no titular da Saúde com quem o diálogo com a Ordem parece ser impossível.
Substituir unidades de saúde por equipamentos de socorro que transportem tão rapidamente quanto possível as vítimas para as urgências mais próximas, tal como preconiza a política do Ministério da Saúde, terá em várias situações, inevitavelmente, o desfecho trágico que ocorreu em Aveiro, pelo que insistimos no fim desta confusão promíscua entre socorro, atendimento hospitalar e solidariedade social que alguns tentam, sem sucesso, amalgamar.
Nunca foi revelado um estudo onde sejam divulgados os dados que presidiram a esta suposta reestruturação, incluindo nele desde as distâncias a percorrer, os trajectos possíveis e os tempos de percurso, a redundância dos meios, a capacidade das unidades para onde os pacientes são encaminhados, os limites de ruptura das mesmas e todo um conjunto de factores que permitiriam sustentar uma decisão política que surge como desastrosa e dar alguma traquilidade às populações.
Infelizmente, em Portugal parece haver uma significativa dificuldade para planear, prever, simular e, com base em conclusões sólidas, tomar opções políticas correctas e sustentadas em estudos credíveis e públicos, pelo que as de decisões se baseiam em pouco mais do que intuições e nas ilusões de quem pensa que, apenas porque detém a responsabilidade de um alto cargo do Estado, tem a capacidade inata de decidir sem uma base de trabalho que traduza a realidade.
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2 comentários:
Essa morte é somente foi mais uma, existem muitas mas são abafadas pelas administrações hospitalares.
Já se esperava isso com o encerramento das urgência um pouco por todo lado pelo ministro da saúde, é somente o principio do caos se esta se instalar nas urgências hospitalares, ainda não começaram por reter ambulâncias por falta de macas, isso vai ser bonito de ver.
http://voo-da-fenix.blogspot.com/
Olá
Também penso que é só o começo e que outras situações se vão seguir.
É uma pena que quem transporte os doentes não os contacte, por exemplo, um mês depois para saber o que realmente sucedeu.
É preciso obter dados mais concretos acerca destas situações, mas tal só será credível se não for através das vias oficiais.
Um abraço
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