terça-feira, fevereiro 05, 2008

Três montanhistas resgatados: inconsciência e um GPS


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Um Kamov na sua primeira missão de resgate

Três montanhistas que estavam a efectuar uma caminhada no Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), na zona de Cabril, concelho de Montalegre, foram resgatados no termo de uma operação que envolveu elementos de duas corporações de bombeiros, uma equipa de sapadores do próprio PNPG e um Kamov Ka-32.

O alerta foi dado pelos próprios para os bombeiros, por volta das 16:00 para os bombeiros, tendo sido dadas coordenadas consideradas como "precisas" do local onde se encontram, situado a 1.500 metros de altitude, fornecidas via telemóvel após leitura de dados posicionais de um GPS.

Na altura, as condições climatéricas, com frio, neve, chuva e o cair da noite a aproximar-se já levantavam sérias aprensões aos três indivíduos que já encontravam dificuldades em deslocar-se.

A Protecção Civil chegou a enviar para o local um helicóptero de resgate, mas a falta de condições de visibilidade impediu a operação de se concretizar no próprio dia, pelo que a responsabilidade passou para as duas dezenas de elementos no terreno.

Perto das 00:00 as equipas de salvamento estariam relativamente perto do local indicado pelos três montanhistas, uma das quais, a única que permanecia calma, se mantinha em contacto com os bombeiros mas, na verdade, só durante a manhã conseguiram terminar a evacuação que assinalou a estreia dos Kamov Ka-32 em missões de resgate.

Após o resgate, os montanhistas foram conduzidas ao Centro de Saúde de Montalegre, onde foram avaliados, verificando-se que estavam de boa saúde, facto para que contribuiu o equipamento que possuiam.

Para além do bom equipamento de que dispunham os montanhistas, onde há que destacar a importância de um GPS e de comunicações, não podemos deixar de criticar o facto de se terem aventurado numa zona de difícil acesso, com neve e com previsões meteorológicas que deviam ter sido tomadas em devida conta, sobretudo por parte de quem afirmou à comunicação social ter experiência neste tipo de actividades.

A decisão de efectuar um percurso na zona em causa e nestas condições, para além de temerária e de por em risco os próprios montanhistas, coloca igualmente em perigo as entidades responsáveis pelo socorro, facto que devia fazer reflectir todos quantos se dedicam a este tipo de actividade, lembrando a responsabilidade de cada um na sua segurança pessoal e na dos que, em caso de necessidade, terão que intervir.

Temos vindo a relatar, por diversas ocasiões, acidentes que provocaram vítimas entre elementos do socorro e reconhecemos que esta é uma missão de risco, pelo que cabe a todos contribuir para que não se criem perigos adicionais resultantes de actos irreflectidos.

Resta-nos salientar a importância de dispor de um GPS e a possibilidade de enviar a posição, de modo a que uma operação de salvamento, que demorou longas horas apesar do conhecimento da localização exacta, chegasse a bom termo, sendo que, na ausência de uma informação com esta precisão, as consequências desta aventura podiam ter sido trágicas, dadas as dificuldades de busca na área onde os montanhistas se perderam.

1 comentário:

Ivo Costa disse...

Gostei da apresentação do blog antes de mais.
Quanto a este post...
Tenho registado comentários diversos a este incidente, e sinto-me tocado sempre que alguém aponta como solução para estes casos, o: "fiquem em casa e não corram riscos".
Eu gosto de actividades de ar livre, e procuro sempre ser obcecado com o risco, estando sempre a calcular o que pode correr mal, e o que é certo, é que não precisaria nunca de mais do que 1 minuto para arranjar todos os motivos para não sair de casa. Não me parece que essa seja a solução adequada. O risco tem que ser ponderado com vários factores, entre eles as competências que os próprios consideram ter para enfrentar os riscos, e essas variam de pessoa para pessoa. O que para uns é aceitável, para outros é impensável.
Não existe um grau absoluto de risco, isso é uma ilusão.
O problema que me parece existir, é que estamos todos convencidos que vivemos num mundo de risco reduzido, e se o "pior acontecer" alguém estará lá para resolver o problema.
No meu entender uma avaliação correcta do risco implica considerar que caso o dito "pior" aconteça, pode não haver condições para os meios de socorro intervirem, ou sequer terem sucesso, e agir a partir desse pressuposto, mas isso não implica que não se activem esses meios. Sabendo porém que o principal objectivo dos meios de socorro é garantir a sua própria segurança. Com base neste pressuposto a responsabilidade passa para as mãos de quem decide correr o risco, mas é importante que possa correr o risco, não vamos é depois criticar as forças de socorro por conseguírem ou não ter sucesso nesse socorro. O sucesso do socorro é um bónus. O risco foi corrido com consciência. É assim que eu gosto de pensar.