Sem entrar em polémicas relativamente aos vários pontos abordados pelo discurso do Presidente da República nas comemorações do 5 de Outubro, não posso deixar de me pronunciar sobre o divórcio entre a sociedade civíl e a classe política, normalmente representada pelos partidos, cuja influência se manifesta em todas as instituições do Estado, muitas vezes subvertendo o seu funcionamento.
A falta de participação na vida cívica, que parece ser um lamento constante, e o afastamento cada vez maior entre os cidadãos e o Estado, de que resulta uma demissão de ambos relativamente às respectivas responsabilidades, contínua a ser abordada sem perspectivar soluções.
Verifica-se, infelizmente, que a participação cívica em Portugal apenas é permitida a quem milite num partido político, que sendo uma estrutura fechada mas com uma óbvia capacidade de auto regenerar-se, vive fechado para sí mesmo, orientando a sua actuação por uma implacável lógica de conquista ou manutenção do poder exigido pelos seus apoiantes, muitos dos quais dependem de nomeações políticas para assegurar a sua própria sobrevivência. Baseados numa clientela muito particular, entre os quais um vasto conjunto de militantes sem qualificações ou desempenho profissional que lhes permita a sobreviver no sector privado, a partidarização da vida pública tem como consequência visível o lamentável estado do País e a desresponsabilização de todos quantos deram o seu contributo para a actual crise.
Quando o Estado recusa, sistematicamente, sugestões e formas de cooperação voluntárias dos cidadãos, limitando-se a olhar para estes como meros contribuintes cujo único previlégio é o de alimentar o desperdício resultante da incompetência, pouco ou nada pode esperar em termos de lealdade e de espírito de sacrifício por parte de quem se sente sistematicamente excluido da vida pública.
Exemplo gritante é a falta de apoio do Estado a projectos de voluntariado, a indiferença com que são acolhidas sugestões, independentemente da sua fundamentação e validade, as quais são substituidas por estudos dispendiosos, tantos dos quais de qualidade duvidosa, e que na maior parte dos casos não oferecem soluções exequíveis nem compatíveis com o estado das finanças públicas. No entanto, tendo sido realizadas pelos inúmeros gabinetes de acessoria ou consultadoria a que recorrem os orgãos do Estado, susbsidiando assim um sem número de interesses instalados, esses mesmos estudos são adoptados independentemente da sua valia, quase como que para justificar o seu custo absurdo.
Quando lamenta a falta de colaboração dos cidadãos, esquece-se o Presidente da República de lembrar que, mais grave ainda, é o autismo do Estado, dos partidos políticos, e de todos quantos se consideram como donos de uma governação que se faz em sistema mais de rotatividade do que de alternância e nunca de verdadeira alternativa.
Parece que, no fim, a culpa é sempre dos mesmos, desse inconveniente chamado cidadão, que supõe ter mais direitos do que aqueles que realmente merece.
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