quarta-feira, maio 17, 2006

11.000 voluntários sem disponibilidade para combater incêndios


Image Hosted by ImageShack
Incêndio no Verão de 2005

O combate aos fogos está praticamente nas mãos dos bombeiros voluntários, mas mais de um quarto do total de 40.000 admite não ter disponibilidade para combater os incêndios durante o Verão.

Outros 24.000 só o podem fazer parcialmente, pelo que a 100% estão apenas 5.100 homens pagos pelo Estado para garantir os efectivos mínimos do combate.

O problema está a preocupar a Liga dos Bombeiros Portugueses, que apela à criação de uma estrutura profissional que assegure o socorro à população.

O Governo reconhece esta carência e lembra que já tomou medidas, criando o Grupo de Intervenção, Protecção e Socorro (GIPS), que integra 34o militares da Guarda Nacional Republicana (GNR) e tem provocado diversas polémicas com os bombeiros.

As estatísticas do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC) dão conta de 40.000 voluntários, mas, na prática, segundo admite o presidente da Liga, Duarte Caldeira, "este universo é potencial, pois não estão todos em permanência".

Se ao total de voluntários forem subtraídos os 5.100 homens que compõem as equipas de actuação permanente, contratados nesta época e devidamente pagos, restam 35.000.

Neste número, diz a Liga, há 24.000 homens que têm uma "disponibilidade razoável" e podem dedicar 48 horas semanais equanto os outros 11.000 não têm quase tempo para combater os incêndios.

Duarte Caldeira acrescenta: "É preciso avaliar se não há uma percentagem de homens, que julgo ser pequena, que não estão a assumir os mínimos que justifiquem a sua condição de bombeiro".

A crescente dificuldade das empresas também leva os patrões a dispensar menos vezes os seus funcionários e a justificação das faltas dos que vão para os incêndios fica ao critério da entidade patronal e sujeita à sua sensibilidade.

Esta compreensão, muitas vezes, esgota-se rapidamente, dada a falta de compensação para as entidades empregadoras que, sobretudo em unidades de pequena dimensão e confrontadas com o período de férias, não podem prescindir de funcionários essenciais ao seu funcionamento.

O presidente da LBP reconhece que há zonas onde recrutar voluntários é cada vez mais difícil, mas prefere não falar em crise de voluntariado, contrapondo que "há sim uma falta de disponibilidade cada vez maior dos próprios voluntários, que hoje têm a vida profissional e pessoal mais complicada."

Esta realidade é evidente e já levou as entidades responsáveis a tirar as devidas ilações, reforçando o dispositivo com 1.500 elementos, divididos entre acções de detecção, vigilância, primeira intervenção e combate.

As equipas de combate foram alargadas e contam com 5.100 pessoas, mas o aumento deste efectivo, que antes formavam os Grupos de Primeira Intervenção (GPI), traz custos adicionais para o Estado, pois estes voluntários recebem um prémio de 40 euros por dia.

No total, e durante a fase de risco mais elevado que abrange Julho, Agosto e Setembro, o dispositivo operacional conta com 7.750 homens mobilizados directamente para esta missão, número que parece insuficiente para fazer face a uma tragédia cuja dimensão tem aumentado nos últimos ano e que, só em 2005, matou 21 pessoas e devastou mais de 325.000 hectares de floresta.

Efectivamente, a crise de voluntariado é sobretudo local, dado que continua a existir em Portugal um largo números de voluntários, que colaboram nas mais diversas actividades, mas que surgem centralizados em áreas urbanas de alguma dimensão.

Esta crise, a haver, tem razões exógenas à própria vontade ou vocação das populações, e surge sobretudo em zonas do País particularmente deprimidas, envelhecidas e desertificadas, traduzindo assim mais uma realidade demográfica do que uma qualquer opção deliberada.

Este problema estrutural, tem a ver com as condições sócio-económicas do Interior, de que resultam consequências demográficas conhecidas por todos quanto estudam o assunto sem escamotear a realidade, tem sido ignorada pelos sucessivos governos, que continuam a apostar sobretudo no Litoral, onde existem melhores infraestruturas, em vez de optar por medidas que reforcem a solidariedade nacional.

Sem comentários: