Combate a um incêndio florestal em 2005
O presidente da ANBP lamenta que as críticas dos bombeiros se repitam de ano para ano e antevê mais um "verão negro" para os soldados da paz.
"A estrutura de socorro em Portugal tem que ser apoiada nos bombeiros profissionais. Não pode estar apoiada numa estrutura de voluntários sem organização, sem disponibilidade e sem formação", afirmou ao Jornal de Notícias Fernando Curto, acrescentando que esta continua a ser a grande reivindicação do sector.
Fernando Curto acusa o Governo de continuar "a adiar a uniformidade do sector", alheando-se das responsabilidades sobre os corpos profissionais, que legalmente se encontram sob a dependência das câmaras, que, por sua vez, "não têm a responsabilidade que devem ter".
No "jogo do empurra", diz Fernando Curto, é a prestação de socorro às populações que é prejudicada, manifestando preocupação quanto à época de incêndios que se avizinha.
"Algumas das medidas propostas por nós não foram implementadas pelo Governo. Faltou cumprir os relatórios da COTEC (Associação Empresarial para a Inovação) e da Comissão Parlamentar, que era sustentabilizar e profissionalizar mais este sector", explicou.
"Profissionalizar não é necessariamente gastar mais", finalizou, lembrando os milhares de euros e as vidas humanas perdidos nos incêndios todos os anos, que justificam o investimento.
Nas conclusões do congresso pode ler-se que "todos os relatórios produzidos nos últimos três anos pelas mais credíveis instituições não foram matéria suficiente para que o senhor ministro da Administração Interna tenha aceite as propostas (...) apresentadas para um maior investimento numa estrutura mais organizada de bombeiros profissionais".
"Em vez disso, o senhor ministro optou por recrutar elementos da Guarda Nacional Republicana (GNR) para funções que são da responsabilidade dos bombeiros. Não concordamos mas temos de aceitar", refere ainda a associação, que compara os anos de formação técnica contínua dos bombeiros profissionais aos três meses da preparação ministrada aos soldados da GNR.
O secretário de Estado da Administração Interna, Ascenso Simões, reafirmou no encerramento do V Congresso da ANBP que a criação dos Grupos de Intervenção Permanente (GIP) da GNR criados para prevenir fogos florestais irão complementar e não substituir os bombeiros.
"Não decidimos substituir ninguém, bombeiros voluntários ou profissionais. Estes homens da GNR, que terão outras competências no futuro, têm um papel de complementaridade, de ajuda e estruturação do sector, mas nunca substituirão o papel dos bombeiros", garantiu Ascenso Simões.
Efectivamente, não serão as três centenas de militares da GNR que podem substituir os milhares de bombeiros que entrarão em acção, nem tão pouco ter um impacto decisivo, pelo que consideramos que esta opção deriva do facto de o seu estatuto os obrigar a uma maior disciplina e obediência, evitanto assim depender de uma estrutura voluntária que o Governo teme não controlar.
Não temos dúvidas que, caso fosse possível uma militarização dos bombeiros, o Governo não teria criado o GIPS, pois o ideal de estrutura hierárquica que pretende seria implementado sem custos adicionais.
No entanto, como o voluntariado civil e a obediência militar são, "à priori", incompatíveis, a opção foi nitidamente no sentido de constituir uma força considerada obediente e facilmente controlável, sem olhar nem a custos, nem ás consequências em termos operacionais ou à desestabilização que provocou na área do socorro.
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