Para além da devastação provocada pelas chamas, o próprio combate aos incêndios aumentou o desastre ambiental que se verifica no Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), com centenas de árvores arrancadas pela raiz para prevenir o avanço do fogo.
Nas zonas mais afectadas, podem-se encontrar centenas de metros de árvores tombadas, enormes clareiras e áreas inteiramente queimadas, em parte fruto da intervenção para controlar os fogos. naquilo que o director do PNPG, Henqique Pereira, considera como sendo "um desastre".
Este cenário é visível na zona da "Porta do Mezio", um dos mais importantes pela sua biodiversidade e riqueza natural, mas também dos mais visitados pelos turistas dada a sua beleza paisagística de outrora.
Mesmo discutindo a táctica utilizada, decidida por quem estava no terreno e se confrontava com uma situação particularmente difícil, o facto de passados três meses ainda nada ter sido feito para minimizar as consequências a nível ecológico, ambiental e visual é da maior gravidade.
Para quem recorreu ao método de arrancar centenas de árvores com máquinas de rasto para controlar as chamas, esta seria a única opção possível para evitar o avanço do fogo e permitir aos meios de combate deslocar-se numa zona de muito difícil acesso.
Esta é a justificação de Martins Araújo, vereador do Ambiente da Câmara Municipal de Arcos de Valdevez, que lembra que "era noite e tínhamos que travar o fogo que ameaçava algumas casas", enquanto acusa o Instituto de Conservação da Natureza (ICN) por, três meses após os fogos, "nada ter feito" no sentido de minimizar o impacto negativo.
Efectivamente, responsáveis do ICN e vários políticos, entre os quais o Presidente da República, estiveram nas áras mais afectadas do PNPG a avaliar a situação, mas desde então "ainda não executaram nada", segundo adianta o autarca.
Para o director do PNPG, a táctica utilizada foi errada, conforme é demonstrado pelos resultados e adianta que "este tipo de corta-fogo não são a forma mais eficiente de combatê-los e, em alguns casos, ultrapassaram a barreira criada", mas compreende as decisões tomadas perante uma situação que parecia agravar-se a cada momento.
Henrique Pereira adianta ainda que na próxima semana se vai começar a limpeza de ribeiros, limpar cursos de água e abater milhares de árvores, de modo a abrir novos acessos e evitar o aumento de lamaçais que se espalham por enormes áreas.
"Só as que de alguma maneira foram tocadas pelo incêndio e estão em risco de contrair pragas vão ser cortadas" e, segundo o director do PNPG, a receita da venda das árvores reverte a favor das comissões de baldios.
Em relação à recuperação da zona onde foram abertos os corta-fogos e a necessitar de uma intervenção mais profunda, Henrique Pereira espera ser apoiado pela Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez, mas os trabalhos só deverão iniciar-se na próxima Primavera.
Foi, naturalmente, a falta de prevenção e planeamento que permitiu que o incêndio no PNPG lavrasse durante dias e obrigasse a opções tão drásticas como as adoptadas numa tentativa, muitas vezes gorada, de controlar as chamas.
Manifestamente, a opção por deixar áreas sem acesso, como forma de as proteger da acção humana, mas que também limitou a possibilidade de serem acedidas elos bombeiros, contribuiu grandemente para o desastre que todos conhecemos e demonstra que os grandes fogos têm que ser prevenidos e não combatidos.
Igualmente grave, é a falta de recursos do ICN, tantas vezes mencionada, mas que deixa desprotegidas as zonas protegidas à sua guarda, as quais se tornam em pasto de chamas com enorme facilidade e com consequências gravissímas para as populações que aí habitam.
Infelizmente, pouco se tem aprendido com estas tragédias ambientais e duvidamos que antes do próximo Verão existam planos implementados em todas as áreas protegidas, sob pena de, ano após ano, assistirmos ao desaparecimento de zonas de interesse ecológico, agrícola e turístico que demoram anos ou décadas a recuperar.
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