domingo, janeiro 21, 2007

Mais uma morte à espera de socorro


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VMER com o equipamento transportado

Pela segunda vez em menos de 15 dias, um paciente morreu em Odemira após uma longa espera por uma intervenção do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).

O homem, de 57 anos, teve ataque cardíaco na praia e foi transportado para o centro de saúde de Odemira onde esperou mais de quatro horas pela chegada do INEM, acabando por falecer

Segundo os bombeiros de Odemira, a emergência foi accionada pelas 09:15, tendo os meios de socorro chegado 30 minutos depois à praia da Atalainha, na Zambujeira do Mar, onde a vítima se tinha deslocado para pescar.

Uma Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER), a única do distrito, estacionada em Beja, foi chamado às 11:01, tendo chegado pelas 11:50, mas o médico não conseguiu estabilizar o paciente.

Foi seguidamente chamado o helicóptero do INEM que chegou pelas 13:00 a Odemira, mas não chegou a ser utilizado dado que não foi possível estabilizar a vítima de modo a poder ser transportada.

Segundo a Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo, o óbito foi declarado no centro de saúde de Odemira às 13:40, quase quatro horas e meia após o alerta.

Recordamos que a 08 de Janeiro, uma vítima de um atropelamento ocorrido também na zona de Odemira, demorou mais de seus horas a dar entrada no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde viria a falecer dias depois.

Neste primeiro acidente, o Ministro da Saúde declarou "estar orgulhoso" por não ter cedido a pressões e ordenado um inquérito, algo que, obviamente, lamentamos e condenamos, dado que os inquéritos, para além do apuramento dos factos, se destinam também a propor correcções para os erros ocorridos.

Consideramos, no entanto, que existem diferenças substanciais nos dois casos, as quais não foram destacadas por muitos orgãos de informação, muito embora o resultado final tenha sido o mesmo.

Neste caso concreto, não se pode por em causa a rapidez de intervenção dos meios do INEM, dado que mesmo os 50 minutos que a VMER demorou a chegar deriva da distância a percorrer e não de uma falta de prontidão dos meios.

De igual modo, o helicóptero descolou e chegou a Odemira com rapidez, pelo que as falhas não serão dos profissionais do INEM mas da disposição geográfica, resultante de um número insuficiente de unidades, e do escalonamento de meios, que pode determinar uma activação tardia dos mesmos.

Pode-se, obviamente, questionar se os meios enviados numa primeira intervenção foram os mais adequados ou se a VMER não deveria ter sido activada antes, tal como se podem colocar em causa inúmeros factores em termos de organização, mas a forma como este caso foi tratado por parte da comunicação social, de forma pouco objectiva e menos ainda esclarecedora, apenas aumenta a confusão e impede uma discussão séria do problema.

É certo que, infelizmente, se continua a morrer por falta de socorro num País europeu, membro da União Europeia, onde as prioridades políticas não são, manifestamente, aquelas que mais interessam ao cidadão comum, que se vê abandonado à sua sorte ou à falta dela, mas também não é menos verdadeiro que só uma análise correcta de cada situação pode contribuir para uma melhoria do socorro em Portugal.

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