Nem tudo é notícia e os abusos são inaceitáveis
Neste caso, a cobertura televisiva feita pelas televisões locais e retransmitida pelas emissoras nacionais, vem acrescentar um toque de mau gosto que pensavamos não ser possível, ao expor publicamente, de forma gratuita e inútil, a dor, o sofrimento e a ansiedade de quem esperava por notícias acerca de eventuais sobreviventes.
As imagens que a televisão brasileira apresentou e, passados dias continua a repetir, eram desnecessárias e inúteis, sem qualquer interesse jornalístico e em nada adiantavam para um melhor entendimento do que se passou, limitando-se a banalizar a dor e a explorá-la com fins meramente comerciais no intuito de aumentar as audiências à custa de uma emissão feita a metro e sem critérios.
Com uma dimensão inferior, porque o número de vítimas não é sequer comparável, a exploração de tragedias também se verifica entre nós, limitada apenas por critérios vagos de auto-regulação e por uma tradição cultural que restringe o uso das imagens mais chocantes, mas o facto é que, ainda hoje, não existem mecanismos que evitem a exploração sem sentido da dor e do sofrimento.
Relativamente à auto-regulação, que foi por diversas vezes mencionada por parte de diversos orgãos de comunicação social como a única limitação a seguir, esta tem-se revelado como escassa ou inexistente, sempre subordinada a um alegado dever de informar que, efectivamente, não passa de uma forma de satisfazer um determinado tipo de audiências que parece apreciar particularmente este tipo de imagens.
Não estamos a falar de censura, que consideramos inaceitável, mas tão somente de respeito e de humanidade, apelando a valores que devem sobrepor-se a qualquer critério supostamente informativo que tem como único objectivo o aumento das audiências e que, infelizmente, ainda podemos constatar durante tragédias como os incêndios florestais, os acidentes de viação ou tantos outros desastres que enfrentamos diariamente.
Nem tudo é notícia e não se podem justificar os abusos e as violações de privacidade, particularmente penosas em momentos de dor, que são sucessivamente praticados sob a justificação do dever de informar ou o direito de ser informado, revelando uma indiferença perante um conjunto de valores fundamentais que consideramos ser inquestionáveis.
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