Erupção de fogo ao longo de uma fissura no terreno
Se bem que estas duas expressões descrevam o mesmo fenómeno, responsável pela maioria das mortes em incêndios florestais, existe uma diferença fundamental entre elas.
A primeira, usada por quase todos, descreve uma situação aprendida empiricamente mas cujas causas profundas, a forma de a detectar e de a evitar são provavelmente apenas conhecidas por quem usa a segunda expressão e estudou este fenómeno que tem custado tantas vidas.
No entanto, e apesar da dificuldade em prever esta situação, ela não acontece de repente e, com uma formação e acompanhamento rigorosos, é possível detectá-la antes de acontecer uma fatalidade como a de ontem.
Na verdade, confunde-se causa e consequência, atribuindo a uma súbita mudança do vento ou das condições atmosféricas aquilo que, na realidade, resulta do comportamento do próprio fogo.
A descrição do fenómeno que apanha desprevenidos bombeiros e civis é sempre a mesma: uma mudança repentina das condições, associada a uma viragem brusca do vento de que resulta o fogo ganhar dimensões incalculáveis, surpreendendo e cercandos pelas chamas que estiver no local.
Na prática, o comportamento eruptivo do fogo vai-se formando de forma invisível, nomeadamente em declives e quando o fogo sobe uma encosta, o sub-solo vai ardendo, mesmo sem chamas visíveis.
Só quando surge uma muralha de fogo intransponível, após ter consumido o sub-solo, é que o perigo se torna subitamente visível, muitas vezes cercando os bombeiros que podem não conseguir fugir.
Quando emerge, é o próprio fogo que cria o vento que, por sua vez, faz aumentar ainda mais a velocidade das chamas, algo que, em muitos casos é confundido com a causa do sucedido e não como uma consequência do mesmo.
Na altura da tragédia de ontem, segundo os dados fornecidos pelo Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC), que menciona uma temperatura de 32 graus, uma humidade relativa de 19% e vento de 7 km/h, pode-se estar ainda em condições de risco moderado, longe dos conhecidos 30-30-30, mas no relevo apropriado, uma erupção do fogo pode surgir com condições de risco muito inferiores.
Esta situação, para além do esforço para acabar com os incêndios através de medidas estrurais e de uma prevenção adequada, reforça a necessidade de uma formação mais rigorosa de todos os intervenientes e de uma investigação séria e isenta de cada acidente, de modo a que estes não se repitam no futuro.
No caso concreto do acidente de Famalicão da Serra, no concelho da Guarda, a comissão de inquérito já nomeda conta com o Professor Xavier Viegas, especialista que se tem dedicado a este tema, bem como elementos do SNBPC e da Afocelca, empresa de que dependiam os sapadores chilenos falecidos, esperando-se que, para além das conclusões, sejam feitas as necessárias sugestões para que incidentes semelhantes não se repitam.
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