segunda-feira, outubro 23, 2006

Inundações: uma consequência pouco discutida


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Inundações: uma consequência pouco discutida

Quem assistiu a um dos noticiários televisivos de hoje poderá ter-se apercebido de uma das consequências menos conhecidas e raras vezes inventariadas dos incêndios florestais.

Nas reportagens efectuadas sobre os efeitos das chuvas que cairam em todo o País, mas com especial destaque no concelho de Pampilhosa da Serra, podem-se ver algumas das consequências indirectas dos incêndios, como responsáveis por grande parte das inundações verificadas.

Normalmente, os prejuizos dos incêndios são quantificados em termos de área ardida, de bens perdidos ou das vítimas directas que causam, sem tomar em conta que as alterações que estes provocam, quer no meio ambiente, quer na modificação de cursos de água, para mencionar algumas das situações mais evidentes, não são tidos em conta, mesmo que resultem em prejuizos que em muito ultrapassam a época dos fogos.

Os prejuizos causados neste fim de semana, ainda por quantificar, não serão, quase certamente, atribuidos às suas causas indirectas, as que criaram o cenário para que, de forma inevitável, as águas das chuvas e de cursos transbordantes destruissem ou danificassem bens e propriedades.

Do aluimento de terras, soltas pelo desaparecimento das árvores queimadas, a alteração de cursos de água ou a sua obstrução têm resultado um conjunto de fenómenos, por vezes descritos como naturais, mas cuja origem é, em grande parte fruto de acção humana, seja intencional, seja por mera negligência.

Resultam, assim, situações meteorológicas consideradas extremas, mas que podem não ser mais do que situações perfeitamente normais, cujas consequências derivam não tanto da acção da natureza, mas do cenário criado pela acção humana e que potencia e multiplica o efeito de qualquer fenómeno que, apenas há uns anos, era inofensivo.

Convirá, a bem da verdade e do rigor científico, que os prejuizos agora verificados sejam atribuidos às verdadeiras causas, acabando com teorias que apontam para fenómenos unicamente naturais como os culpados da destruição que hoje se verificou.

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