Equipa da VMER do Hospital de Bragança
Segundo declarou António Marques, presidente da comissão de peritos responsável pelo desenho da nova rede de urgências durante uma audição no Parlamento, "a invenção do conceito de viatura de suporte intermédio de vida é uma opção política que não é a nossa, do ponto de vista técnico".
Esta afirmação, prestada perante a Comissão Parlamentar de Saúde, demonstra uma flagrante divergência com o Ministério da Saúde quanto a este novo possível meio de socorro de doentes em situação de emergência.
Para a comissão, o sucesso da nova rede de urgências passa por um sistema eficaz de transporte de doentes, pelo que "a grande reforma do socorro pré-hospitalar faz-se com mais e melhores ambulâncias, e com a formação de quem se põe lá dentro, não se faz introduzindo mais viaturas de suporte disto ou daquilo".
O presidente da comissão também salientou a necessidade da existência de mais helicópteros medicalizados no Interior do País, capazes intervirem rapidamente onde sejam necessários e de estabilizarem as vítimas antes de estas serem transportadas para um hospital.
O problema do socorro no Interior já foi abordado por diversas vezes e despertou a atenção do País após a morte de um sinistrado em Odemira, que aguardou largas horas até ser evacuado para um hospital com as valências necessárias para prestar os cuidados de que necessitava, tendo uma situação semelhante ocorrido pouco depois no mesmo concelho.
Lamentavelmente, o ministro da Saúde recusou um inquérito, alegando que tudo decorrera de forma correcta, mas apressou-se a visitar o concelho e a anunciar um conjunto de novos meios, nos quais se incluem estas viaturas intermédias de suporte de vida, cuja equipa não incluirá nenhum médico.
Na altura, foi afirmado pelo titular da pasta que estes meios estariam em contacto com médicos, através de diversos meios tecnológicos que todos sabemos, implicarem a existência de redes de comunicações fiáveis e de alta velocidade, algo que só existe no Litoral, ou seja, precisamente onde as VMER existem em maior número e os hospitais estão mais próximos.
Esta opção por viaturas intermédias, que visam apenas objectivos económicos, nunca teve sustentação técnica e destina-se tão somente a evitar aumentar o número de VMER, bastante mais dispendiosas em termos de aquisição e manutenção, mas muito mais eficazes em termos de socorro.
Há, no entanto, que ressalvar a falta de médicos especializados em emergências, os quais necessitam de uma formação especializada, sem o que as VMER não terão os resultados esperados, pelo que se impõe um reforço destes especialistas, mesmo que através de um sistema de recrutamento a nível internacional.
Lembramos que, há algumas décadas e como consequência da guerra Colonial, Portugal dispunha, mesmo que informalmente, de um conjunto de médicos treinados para situações de emergência, mas essa geração começa a sair do activo, provavelmente sem ter transmitido todos os conhecimentos práticos adquiridos em condições particularmente difíceis.
Será vantajoso, antes que seja tarde, aprender com a experiência deste conjunto de médicos e formar, tão rapidamente quanto possível, uma nova geração de especialistas em emergência médica, que aliem aos conhecimentos dos seus antecessores as tecnologias modernas que hoje estão disponíveis.
Independentemente da solução idealizada, a presença de um tripulante com formação médica e especialização em emergência é um factor fundamental para a segurança das populações, sobretudo para as que estão mais afastadas dos grandes centros, e um direito de todos quantos, locais ou visitantes, se encontrem no nosso País.
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