domingo, junho 17, 2007

Ainda alguém se lembra da Guarda Florestal?


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Incêndio resultante de uma queimada

Quando em Maio de 2006, o Governo extinguiu o Corpo Nacional da Guarda Florestal (CNGF), integrando os seus elementos no Serviço da Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da Guarda Nacional Republicana (GNR), havia a perspectiva de uma melhoria em termos operacionais e funcionais que, passado um ano, não se verifica.

Os cerca de 500 antigos funcionários do antigo CNGF não dispoem dos equipamentos necessários, como computadores e meios de transporte, viram os seus vencimentos reduzidos devido à perda do pagamento de horas extraordinárias e recebem menos que os seus colegas militares,

A falta de verbas para o pagamento de horas extraordinárias reduz a actividade ao horário normal de expediente, pelo que em fins de semana e feriados os elementos provenientes do CNGF não fazem vigilância florestal nem investigam as causas dos incêndios, matéria em que a experiência destes guardas é absolutamente essencial.

Compreende-se assim que a percentagem de incêndios cuja origem é classificada como desconhecida tenha subido de 27% em 2002, ano em que o CNGF investigou pouco mais de um milhar de ocorrências, para 64% o ano passado, segundo dados do relatório da comissão parlamentar de fogos florestais.

Mas para além de uma falta de verbas paralisante, também a integração não decorreu da melhor forma, dado esta ter sido uma decisão administrativa que não deu à GNR nem o tempo nem os meios para receber os antigos funcionários do CNGF que, durante meses, não soube rentabilizar estes elementos.

Um dos resultado mais evidentes desta falta de planeamento foi o facto de entre Maio e Julho de 2006 não se terem realizado investigações de origens de fogos por parte dos elementos transitados do CNGF, pelo que quaisquer indícios que apontassem para as causas destes incêndios se perderam, inviabilizando a recolha de provas.

Mesmo actualmente, continuam-se a verificar situações de franco subaproveitamento destes elementos experientes e qualificados que, em muitos casos, continuam sem atribuições operacionais e meios que lhes permitam desempenhar as missões a que estavam habituados, tendo, com a remodelação, perdido a vertente de técnicos florestais e ficado dedicados, essencialmente à vigilância.

A perda de "know-how" e o desperdício de recursos humanos qualificados é, sem dúvida, um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento de um País, e uma enorme falta de respeito por que, ao longo de uma vida, adquiriu valências sempre com a intenção de as colocar ao serviço do seu semelhante.

A forma como os antigos funcionários do CNGF têm sido tratados e o facto de não estarem a ser rentabilizados, não é apenas lesivo para os interesses nacionais, mas revela uma mentalidade que há muito devia ter sido defenitivamente erradicada num País que se pretende livre e democrático.

2 comentários:

Paulo Ferreira disse...

Caro Nuno, eu já previa isso, e muito mais esta para vir, durante vários anos os Portugueses viram na guarda florestais como os verdadeiros polícias da natureza, eram pessoas com um profundo conhecimento sofre o ambiente, e conheciam as suas zonas de intervenção, conhecimento esse adquirido na maioria das vezes durante a sua actividade.
Agora temos a GNR, não respeitam ninguém, e vivem somente de uma imagem que não corresponde a realidade operacional, e meios a esses senhores não faltam, como bons ordenados e equipamento a altura, e andam sempre com os repórteres a traz deles.

Se as outras identidades fossem tratadas de igual modo, o país seria melhor servido.

Nuno Cabeçadas disse...

Caro Paulo
Era um problema que se podia antever, bastando para talver o que se passa com outros cenários de integração de funcionários civis em estruturas militares.

Os problemas são tanto em termos operacionais e de integração, como no efeito negativo nas carreiras dos funcionários civis e na sua permanente secundarização.

Um abraço