quinta-feira, julho 19, 2007

62% de abstenções em Lisboa


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As campanhas contra a abstenção falharam

Num texto recente previamos uma taxa de abstenção de 60% nas eleições para o executivo camarário que ontem se realizaram em Lisboa, algo que veio a ser confirmado pelos dados oficiais que revelam um valor ligeiramente superior às nossas estimativas, consideradas por muitos como francamente pessimistas.

Este nível de abstencionismo poderá resultar de diversas causas, mas recusamos-nos a considerá-lo, como o apontam alguns candidatos, como um voto de protesto, uma expressão contra a convocação de eleições, ou tantas outras interpretações que apenas derivam do interesse pessoal ou partidário.

Mesmo a altura do ano, que é obviamente um factor de peso, não explica o que será um indício de alheamento pela política e de profunda desconfiança pela actual classe política, demonstrado pelas elevadas votações obtidas por quem não dispõe de uma máquina eleitoral partidária.

Os resultados eleitorais em Lisboa, para além de evidenciar o divórcio entre os cidadãos e a política, apontam ainda para o afastamento em relação ao sistema partidário, patente nas elevadas votações de candidatos independentes que, sem os apoios de partidos, obtiveram resultados superiores aos alcançados por listas que dispunham de um apoio só possível através de uma estrutura organizada e financiada.

Da experiência do nosso relacionamento com o poder político, que permanece autista, autoritário e, efectivamente, cada vez menos representativo dos cidadãos deste País, que são vistos como um incómodo, um mal necessário cuja forma de substituir ainda não foi encontrada.

Lamentavelmente, à atitude reprovável do poder político, muitos respondem pela indiferença, pela ausência e pela resignação, do que resulta o eternizar de uma situação que se pode considerar como uma paz podre, que em nada contribui para o desenvolvimento do País e para a afirmação individual e colectiva dos seus cidadãos.

Enquanto a opção de muitos for a demissão deveres de cidadania, o direito de reclamar e de exigir dificilmente será concedido e menos ainda escutado por um sistema político que já percebeu que não é efectivamente penalizado quando ignora aqueles de quem, em termos legais, depende a sua legitimidade.

Espera-se que, após este acto eleitoral, haja uma reflexão de parte a parte, seja por parte do sistema político, que continua a relativizar os resultados, esquecendo que o número de abstenções retira credibilidade e legitimidade objectiva, seja por parte dos eleitores, que ao demitirem-se de um dever básico, renunciam igualmente à maioria dos seus direitos.

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