Este domingo vão-se realizar eleições intercalares para a Câmara Municipal de Lisboa, numa altura em que grande parte dos residentes na Capital do País já se encontra de férias.
Não vamos discutir se a data para que foram marcadas estas eleições é a mais adequada, dada a dificuldade de escolha entre manter uma situação manifestamente insustentável ou correr o risco, que será quase uma certeza, de um nível de abstenção extremamente elevada, eventualmente superior aos 60%, mas existem questões de cidadania que não podem deixar de ser abordadas.
Mas para além destes factores, uma campanha morna, sem soluções inovadoras e recheada de polémicas contribuirá, certamente para o reduzido número de eleitores que prevemos venham a comparecer nas assembleias de voto, facto agravado pela manifesta falta de renovação da classe política, do que resulta seja a repetição de nomes, seja o recurso a titulares de outros cargos que, sem problemas aparentes, a eles renunciam sempre que a máquina partidária sugere o que pode ser entendido como uma promoção ou um mero frete.
Este é o caso do antigo titular do Ministério da Administração Interna, que será o candidato do Partido Socialista nas próximas eleições para a Câmara Municipal de Lisboa, ou da segunda o terceira opção do Partido Social Democrata, que optou por interromper um mandato em Setúbal, para o qual foi escolhido pelo voto popular, ou ainda de quem pretende acumular cargos ou funções que, a serem desempenhados com rigor e entrega, deveriam ser incompatíveis entre sí.
Sem por em causa a competência política destes candidatos, é de lamentar que uma estratégia de índole politico-partidária ditem decisões que repudiamos, as quais se sobrepoem ao interesse nacional, facto que, só por sí, pode comprometer a confiança dos lisboetas no executivo municipal resultante destas eleições.
Por outro lado, a falta de alternativas dos principais partidos políticos, que insistem em não se renovar e não conceder oportunidades aos seus militantes mais jovens, constitui uma das maiores fraquezas do actual sistema político, cada vez com menor prestígio face aos cidadãos que, cada vez mais, manifestam o seu alheamento perante assuntos que a todos deviam interessar.
O manifesto divórcio entre os cidadãos e a própria cidadania e a classe política sai reforçado sempre que opções como esta demonstram a hierarquia de valores pela qual se regem os interesses partidários e a forma como se sobrepoem aos do País e do Estado que deviam servir em primeiro lugar.
Apesar de lamentarmos a forma como este processo decorreu, não queremos deixar de apelar aos nossos leitores lisboetas para que votem no próximo domingo, dado que o alheamento ou a indiferença é, a nosso ver, a pior mensagem que se pode enviar a um poder político já de sí pouco sensível ao sentir dos cidadãos de quem depende a sua legitimidade.
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1 comentário:
Continua o incompreensível direito de voto exclusivo em Lisboa dos residentes em Lisboa.
Sendo que residir em Lisboa é cada vez mais raro, como se sabe, relativamente ao número de pessoas que aí vivem todo o dia, porque aí trabalham, estudam, ou porque passam aí quase todo o seu tempo.
Todos aqueles que penam no IC19 ou na autoestrada Cascais-Lisboa ou na Ponte 25 de Abril, Vasco da Gama e afins passam o seu dia em Lisboa.
Muitas vezes mal conhecem o sítio onde vivem, desde os vizinhos a quem é o presidente da Câmara, para não falar no -- nunca soube quem é, nem de que partido é -- presidente da 'junta'.
No entanto, não votam em Lisboa.
A mesma Lisboa onde fazem tudo, onde gastam e ganham dinheiro, que conhecem melhor que o concelho onde vão dormir.
O que leva L. a pensar se os resultados eleitorais em Lisboa não serão injustos, errados e inúteis.
Pelo menos enquanto os universitários e restantes estudantes, e todos os que 'dormem' fora de Lisboa, que trabalham em Lisboa, aqueles cujo BI não diz Lisboa em 'residência', não votarem em Lisboa.
Porque vendo bem, são eles que vivem -- e que são -- a Capital.
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