Interior de uma ambulância medicalizada
Esta alegada rede tem sido montada sem que haja coordenação com as corporações de bombeiros da região onde as valências na área de saúde são encerradas e sem ter em conta o protocolo assinado com a LBP no respeitante ao transporte de doentes.
Estas novas ambulâncias, designadas como SIV ou Suporte Imediato de Vida, incluem na sua tripulação um enfermeiro que, para o dirigente da LBP, podia ser integrado numa das actuais ambulâncias dos bombeiros em vez de implicar o custo de um novo meio que poderá ser um duplicado relativamente aos existentes.
Para a LBP esta é uma violação do acordado entre a Liga e o Estado e indicía a intenção do Governo de acabar com os serviços prestados pelos bombeiros nesta área através da implementação de um serviço concorrente pago com dinheiros públicos.
A Liga não se opõe a que operadores privados prestem este tipo de serviços, desde que devidamente credenciados, mas manifesta-se contra a possibilidade de estes serem feitos pelo próprio Estado através de um serviço que parece uma extensão algo economicista do Instituto Nacional de Emergência Médica.
Actualmente, os Bombeiros portugueses possuem cerca de 2.000 ambulâncias de emergência médica, perto de 3.500 destinadas a transporte de doentes e aproximadamente 800 viaturas de transporte, com capacidade para transportarem mais do que um doente para consultas, centros de saúde ou hospitais.
Esta estranha opção do Ministério da Saúde, onde parte das eventuais poupanças resultantes de uma política de encerramento de centros e serviços de urgência ou de atendimento seriam gastas, parece ser parte de uma estratégia comunicacional destinada a fazer esquecer o impacto do fecho de unidades de saúde, sem que do novo serviço de ambulâncias resultem significativas melhorias no atendimento e na segurança das populações.
Ao optar por um serviço próprio, com ambulâncias de um nível intermédio que não possuem as valências das Viatura Médicas de Emergência e Reanimação (VMER), que incluem um médico na tripulação e equipamento especializado, está-se a introduzir um novo tipo de meios que nem sequer é complementar, em muitos casos, das ambulâncias dos bombeiros, mas que, em termos de custo, será muito superior a estas e com tendência a aproximar-se das VMER.
Faz, portanto, todo o sentido que as verbas que o Estado se propõe gastar sejam utilizados para potenciar meios existentes, como um conjunto de ambulâncias dos bombeiros, em vez de introduzir um novo sistema que, eventualmente, levantará mais um conjunto de problemas de coordenação, para além de consumir recursos que poderiam ser melhor aproveitados de outra forma.
A única justificação encontrada para esta opção, para além de uma mera acção de propaganda, será a necessidade de um maior controle sobre o sistema de socorro, algo que vem em linha com as tendências manifestadas pelo Governo no sentido de reduzir a autonomia dos mais diversos orgãos e instituições, mas que tem tido dificuldades em impor aos bombeiros dada a sua base no voluntariado e em Associações Humanitárias que dependem da vontade dos sócios.
Concluimos que, mais do que qualquer outra razão, é uma ideia centralizadora e de controle acrescido que motiva uma opção que, na actual conjuntura, seja no panorama do socorro e da emergência pré-hospitalar, seja no âmbito das finanças públicas, não só não faz sentido como entra em contradição com as opções economicistas que determinaram o encerramento de numerosos serviços dependentes do Ministério da Saúde.
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