A "Fase Charlie", correspondente aos meses de maior risco de incêndios florestais, acabou de terminar, num dia em que o mau tempo atingiu quase todo o País.
Apesar de ainda faltarem os dados finais, que a Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF) deverá disponibilizar brevemente, é manifesto que este foi o ano com a menor área ardida nas últimas décadas e um número de ocorrências no nível mais baixo desde que existem registos.
Segundo a DGRF, desde o início do ano e até ao final de Agosto, a área ardida foi de 12.275 hectares, correspondendo a 7.3% da média de igual período dos últimos cinco anos enquanto o total de ocorrências, utilizando os mesmos critérios, ficou perto dos 38.6%.
No entanto, pouco de comum houve entre esta "Fase Charlie" e as de anos anteriores, dado que as condições climáticas determinaram um número invulgarmente baixo de ocorrências, mas, por outro lado, as chuvas que cairam em quantidade superior ao habitual também tiveram efeitos nefastos que agora se evidenciam.
Com as primeiras grandes chuvas a seguir ao Verão e a capacidade de absorção de vários solos acima do normal, sem a necessária limpeza dos sistemas de drenagem e de escoamento, verificaram-se inundações com alguma gravidade de que resultaram prejuizos sérios para quem viu os seus bens submersos.
Devemos dar um particular destaque às inundações na baixa de Sacavém e às declarações do presidente da Câmara de Loures que considerou como inteiramente normal que estas sucedam, como se estas fossem uma inevitabilidade resultante da praia-mar e das chuvas fortes, perante o que nada há a fazer.
Este episódio não pode deixar de lembrar que a Protecção Civil em Portugal, pelas razões que são conhecidas, se centrou na problemática dos incêndios, descurando outros tipos de desastres naturais ou de origem humana para os quais continuamos manifestamente mal preparados, sobretudo em áreas tão sensíveis como a das ameaças nucleares, químicas ou bacterorológicas.
A opção por uma estratégia reactiva, tal como aconteceu com o flagêlo dos incêndios, continua a ser seguida, pelo que presumimos que só após um incidente com alguma gravidade a Protecção Civil equacione a aquisição de meios e o treino e especialistas capazes de enfrentar um conjunto de ameaças que, infelizmente, estão sempre presentes no conturbado Mundo de hoje.
Dentro de poucos dias a DGRF disponibilizará os números finais desta "Fase Charlie" e todos terão a possibilidade de os analisar e comentar mas, diz-nos a experiência, que assistiremos a uma sessão de auto elogios por parte do poder político, que habitualmente prima pela falta de objectividade e se manifesta incapaz de aprender com a experiência.
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