Bombeiros voluntários em Ovar: uma realidade rural
Com excepção de um pequeno programa durante o fim de semana, quando a maioria dos potenciais interessados não está disponível, ou a horas tão tardias que poucos ainda estarão acordados, a presença televisiva dos bombeiros resume-se, em termos práticos, a um conjunto de notícias que ninguém devia desejar ver.
No entanto, quer pelo seu número, quer pelo facto de terem sofrido nos últimos anos perdas humanas superiores às das próprias forças de segurança, este quase desaparecimento a nível mediático terá causas e consequências que vale a pena analizar.
Uma das causas será, consideramos, essencialmente de raiz cultural e resulta de um enfoque muito maior de produções estrangeiras, muitas delas séries de sucesso, noutras áreas de actuação, as quais acabem por beneficiar de uma divulgação e, muitas vezes, de uma propaganda particularmente insistente.
Se analizarmos a divulgação, quer noticiosa, quer ficcionada, das actividades das forças policiais contrapostas à de serviços de emergência, e destes selecionarmos as que envolvem bombeiros, teremos uma descrepância percentual de tal ordem que dispensa cálculos mais aproximados.
Outro factor tem a ver com questões de necessidade, relacionadas com a disposição geográfica das populações, cada vez mais concentradas em grandes áreas urbanas, em que o papel dos bombeiros voluntários surge como menos determinante do que em zonas rurais, onde continuam a ser muitas vezes o único apoio das populações em caso de emergência.
No entanto, pela sua cada vez maior percentagem no total da população e, sobretuto, pelo peso económico que representam, os habitantes das áreas urbanas acabam por ter necessidades diferentes em termos de segurança e de socorro, do que resulta uma menor importância dada aos bombeiros voluntários e uma certa indiferença relativamente às necessidades destas.
Assim, será normal que um esforço mediático que vise a maioria da população, incida nas entidades que dão uma resposta caso estas emergências ocorram nos grandes centros urbanos, previlegiando, por exemplo, o INEM ou a PSP, em detrimento de estruturas mais vocacionadas para espaços rurais, onde podemos incluir não só os bombeiros voluntários, mas a própria GNR.
Este é o cenário actual, fruto de uma estratégia de vendas por parte dos principais orgãos de comunicação social que já condenamos, mas pelo qual não podemos deixar de responsabilizar os próprios bombeiros, pouco habituados à cada vez maior necessidade de publicitar as suas actividades.
No próximo texto, a publicar amanhã, iremos propor algumas sugestões de divulgação que podem ter um impacto positivo na imagem dos bombeiros, sem que daí resulte um encargo financeiro para as associações.
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