quinta-feira, janeiro 11, 2007

Pastores da Peneda-Gerês ficam sem apoios


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Área ardida no Parque da Peneda-Gerês

Passados quase cinco meses após o grande incêndio que destruiu 3.871 hectares do Parque Nacional da Peneda-Gêres (PNPG), começa a tornar-se evidente que os apoios não vão chegar aos mais de trezentos pastores do Soajo, cujas zonas de pasto para o gado foram afectadas.

Para estes pastores, a única forma de alimentar o gado é ir vendendo alguns animais para comprar feno em Espanha com que alimentar os outros, sempre que rareia o pasto.

No entanto, e porque outras espécies foram igualmente afectadas pela alteração do equilíbrio ecológico, os ataques dos lobos sucedem-se cada vez com maior frequência e mais perto das casas.

Também estes predadores viram os seus territórios naturais de caça afectados e a falta de alimentação habitual força-os a procurar comida perto das povoações ou das habitações, onde o gado ainda existente está concentrado.

Este problema é confirmado por Manuel Costa, presidente da Junta do Soajo, que lembra que "há uma semana, os lobos atacaram diversos rebanhos a apenas dez metros de casas. Como não há pasto nas zonas mais altas, os animais ficam nas povoações e o lobo desce para esta zona atrás deles".

Igualmente grave é o facto de o Governo "para além de não ter apoiado os pastores com o feno prometido", ter já "mais de um ano de atraso" nas indemnizações devidas aos criadores sobre os prejuízos provocados pelos ataques dos lobos, que assim "ficam sem os animais e sem pasto".

A falta de apoio do Governo deve-se, segundo o governador civil do distrito de Viana do Castelo, ao facto de, após um estudo desenvolvido por técnicos do Ministério da Agricultura, se ter concluido que "a situação não apresentava a gravidade que inicialmente se admitia", razão pela qual foi considerado não se justificar a ajuda aos pastores seja em feno, seja través da transferência de verbas para os próprios pastores adquirem o alimento.

Para governador-civil, "como não houve uma decisão favorável até esta altura, já não será concedido esse apoio", que garante que os pastos consumidos pelas chamas já se estão a ser regenerar naturalmente.

Esta promessa não cumprida, para além dos aspectos políticos e mesmo éticos, que por serem tão evidentes não se justifica comentar, levanta problemas sérios aos pastores e será mais um factor de abandono das terras que contribuirá para a desertificação e para a ruina económica da zona, com efeitos graves na própria viabilidade do PNPG.

Infelizmente, tal atitude não nos surpreende, pois foi dado prioridade a um apoio comunitário, tendo o Governo português decidido aguardar, nas esperança de não ter que contribuir financeiramente para a resolução deste problema que se deve, em última instância, às desastrosas políticas ambientais dos últimos anos.

Dado que não se verificaram os esperados apoios comunitários e que não foram alocadas verbas nacionais, aponta-se agora para a capacidade de regeneração dos pastos, cuja demora será paga pelos pastores da zona, que assim se vêm sem os prometidos apoios e com muito poucas alternativas económicas numa região cada vez mais votada ao abandono.

As consequências dos incêndios florestais, actualmente esquecidas pelos media, continuam muito para além do Verão e, num País onde a falta de vontade política é manifesta, podem arrastar-se indefenidamente, provavelmente até que os poucos habitantes das áreas afectadas decidam abandoná-las em busca de um futuro menos sombrio.

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