quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Operações de socorro no rio Tua


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Encosta escarpada nas margens do rio Tua

O helicóptero do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNBPC) que participou nas operações de resgate das vítimas do descarrilamento de um comboio na linha do Tua esteve parado por falta de combustível durante duas horas.

Dado que o helicóptero do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) que estivera no local já tinha regressado a Matosinhos, nesse espaço de tempo, entre as 22:00 e as 00:00 em que o Bell UH-1 do SNBPC aguardou reabastecimento no aeródromo de Vila Real, não teria sido possível proceder ao resgate de quem que tivesse sido então encontrado.

Após resgatar os dois sobreviventes do acidente e de os transportar para Vila Real, o helicóptero do SNBPC, o único existente no Norte do País, já não voltou ao local.

Tal deveu-se ao facto de a bomba de combustível, de acionamento eléctrico, se ter avariado, pelo que o combsutível teve que ser obtido no heliporto de Armamar, normalmente só usado durante o Verão para combate aos incêndios florestais e distante cerca de 50 km.

No entanto, por inexistência de recipientes apropriados, foi apenas possível aos bombeiros de Armamar transportar 200 dos 1.000 litros de combustível solicitados, pelo que o helicóptero se viu obrigado a usá-los para atingir o heliporto onde reabasteceu.

É de notar que este tipo de equipamento carece de uma particular atenção e deve ser testado periodicamente e não apenas quando começa a época de incêndios e o heliporto se encontra ao serviço dos bombeiros, sem o que situações como esta podem acontecer.


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Operações de resgate (imagem Lusa)

Dado que o SNBPC apenas dispõe de dois helicópteros, incluindo este, normalmente baseado em Santa Comba Dão e outro, que opera a partir de Loulé, não foi sequer equacionada a possibilidade de accionar meios alternativos.

Igualmente grave, foi a falta de comunicações entre as equipas no terreno e a tripulação do helicóptero do SNBPC, devido à falta de um rádio capaz de operar nas frequências aeronáuticas e essencial para coordenar operações com meios aéreos.

Numa zona em que os telemóveis raramente têm rede, o local do acidente é, segundo os bombeiros presentes, "dos poucos onde os telemóveis funcionam, mas mesmo assim com falhas", facto que permitiu às vítimas pedir socorro, mas que não permite a utilização deste meio para efeitos de coordenação de operações.

Esta situação pode ser obviada através da instalação de um retransmissor num ponto mais alto localizado na zona de operações, mas o SNBPC optou por não o fazer, o que, logicamente, agravou as dificuladades desta missão.

Parece que o SNBPC, a partir do momento em que foram recolhidos os dois sobreviventes, assumiu que os restantes ocupantes estariam mortos, dado que só assim se compreendem as declarações do Comandante Nacional das Operações de Socorro prestadas durante o dia de ontem.

Numa declaração televisionada, este responsável enfatiza o facto de não ser necessária a permanência do helicóptero, considerando que já teriam sido salvos os sobreventes do acidente, pelo que da sua não disponibilidade, não haveria consequências graves para ninguém.

Esta posição, que vem na mesma linha de uma declaração do Ministro da Saúde, no sentido de não ser possível provar que uma intervenção mais rápida tivesse salvo a vida de um homem que faleceu em consequência de acidente que se verificou em Odemira, onde se verificou uma demora no socorro, deve ser igualmente repudiada.

Efectivamente, só é possível haver certezas no caso de uma não intervenção, certos de que o resultado inevitável será a morte do acidentado, enquanto, por outro lado, mesmo com esforço e eficiência, não se pode garantir o sucesso da operação de socorro.

Logicamente, este conceito e a própria linha de argumentação é inaceitável sob qualquer ponto de vista, colidindo contra todos os princípios básicos que devem orientar as operações de socorro e submetendo-as a um economicismo desumanamente criminoso.

Se houve efectivamente falhas, como tudo parece indicar, o essencial é investigá-las e corrigi-las, nunca escamoteá-las, escondendo a verdade numa teia de justificações que apenas aumentam a desconfiança num sistema de socorro que surge, cada vez mais, como incapaz de prestar um auxílio rápido às populações.

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