quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Reflorestação no Gerês ainda não começou


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Incêndio em Portugal (foto Lusa)

Seis meses após o enorme incêndio que lavrou durante dez dias nas serras do Soajo e da Peneda, destruindo mais de 5.000 hectares de área protegida, ainda não foi dado início à prometida reflorestação.

Actualmente, não obstante as promessas de tantos políticos que acorreram ao nordeste transmontano, não só não se verificou nenhuma ajuda, como metade da madeira queimada ainda se encontra no local, enquanto perde diariamente o seu valor comercial.

A venda de dois lotes, um com 10.000 árvores e outro com 13.000, dos quais 40% reverte para o Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG), não chega a metade do total e disponibiliza verbas demasiadamente escassas para as populações, defraudadando as expectativas criadas durante as visitas que diversos políticos, inclusivé o Presidente da República, efecturam ao local.

Dado que o Instituto de Conservação da Natureza (ICN) não tem disponibilidade financeira e o orçamento do parque para 2007 contempla menos de 10.000 euros para reflorestação, já comprometido em dois projectos em curso na Serra Amarela, as perspectivas são particularmente sombrias.

Aliás, perante a actual situação do ICN, onde a muito anunciada remodelação pode assumir contornos de extinção, será difícil que se possa esperar um contributo mais importante por parte deste organismo público.

O próprio PNPG, no âmbito de uma reorganização administrativa, poderá a ser incluido no conjunto dos quatro "Parques de Montanha", a ser geridos pela mesma entidade, mas do que pode resultar uma menor preponderância no que é o único parque nacional português.

Este óbvio desinvestimento, reconhecido pelo ICN e pelo próprio Ministério do Ambiente, provoca situações da maior gravidade como a paragem na limpeza das matas, a suspensão da manutenção dos caminhos e outras infra-estruturas, e a redução de inúmeras actividades por não haver dinheiro para combustíveis.

Só assim se compreende que o maior incêndio que alguma vez devastou o PNPG e que destruiu a Mata do Ramiscal, uma das três áreas de reserva integral do Parque Nacional, continue sem actividades de reflorestação que reponham a riqueza ecológica perdida no Verão passado.

Para além do óbvio prejuizo ecológico, o prolongar desta situação corresponde a um severo golpe no frágil tecido económico da região e, em conjunto com decisões políticas tão controversas como o encerramento de urgências hospitalares, contribui para uma maior desertificação desta zona do território.

No entanto, tão grave como a não reflorestação do Ramiscal, a falta de investimento coloca em perigo as duas outras áreas de reserva integral, pelo que existem justificados receios do que poderá suceder durante o próximo Verão nas matas de Albergaria e do Cabril.

Mesmo não sendo, por razões financeiras, proceder à reflorestação imediata das áreas atingidas, a recolha e venda das madeiras e uma estratégia de protecção das zonas ainda intactas, que obviamente não passa pela absurda cobrança de portagens a quem circule na área, é algo que devia ser considerado como uma prioridade nacional e implementada antes do próximo Verão.

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