Em pleno Inverno é fácil esquecer que em breve as altas temperaturas e o pouco trabalho de prevenção realizado vão potenciar o aparecimento de fogos florestais.
Todos sabemos, e essa mensagem tem sido sucessivamente repetida com pouco sucesso, que o exito das operações de cada Verão depende da preparação e do planeamento realizado durante os meses de Inverno, sendo que, após análise da apresentação do dispositivo para a próxima campanha, são escassas as novidades.
Para além do reforço dos efectivos do Grupo de Intervenção de Protecção e Socorro da Guarda Nacional Republicana, que pelo seu número acaba por ter mais importância política do que prática, os meios atribuidos aos bombeiros serão, sensivelmente idênticos aos de anos anteriores, sucedendo o mesmo com o apoio aéreo disponível onde os meios adquiridos poderão não marcar presença significativa.
Dado que a aquisição dos Beriev Be-200 ao abrigo da negociação da dívida russa se gorou, tornando necessária a realização de um concurso, teremos mais uma vez meios aéreos pesados alugados e, eventualmente, o contributo dos primeiros Kamov Ka-32, caso questões contratuais ou atrasos na entrega obriguem, também neste caso, a mais uma situação de aluguer.
Com os atrasos que se têm verificado tememos, pois, que os concursos deem lugar a ajustes directos ao abrigo de declarações de relevante interesse público, do que resulta, independentemente das justificações, um óbvio prejuizo para o Estado e para o próprio desenrolar das operações.
Sem a existência de concursos e de processos transparentes, abre-se o caminho para negócios ruinosos, normalmente agravados pelos recursos a tribunal por parte de quem se sente lesado na altura das adjudicações, não sendo de estranhar que o preço pago nos ajustes directos, já de sí mais elevado do que o praticado num contrato plurianual, seja agravado por indemnizações compensatórias resultantes de processos judiciais.
Nesta perspectiva, que deriva dos atrasos processuais que são comuns entre nós, a preparação da campanha do próximo Verão surge como particularmente preocupante, facto espelhado pelo pouco relevo dado à apresentação do dispositivo e pelos anúncios feitos de surpresa na área da formação, os quais nem sequer tiveram em conta a capacidade da Escola Nacional de Bombeiros, supostamente responsável pelos cursos a ministrar ainda este ano.
Na área da formação, convém ainda lembrar os vários inquéritos cujos resultados não foram divulgados, pelo que dos acidentes não resultou a revisão e aperfeiçoamento de tácticas e métodos que evitem, tanto quanto possível, os desfechos trágicos que anualmente acontecem.
Será, pois, de concluir que os meses de acalmia foram praticamente desperdiçados, fruto de um triunfalismo fácil perante a diminuição da área ardida, o qual não teve em conta os factores que provocaram essa redução, pelo que o sucesso da próxima campanha vai depender, essencialmente, de factores que dependem de condições e condicionalismos que escapam ao controle dos decisores, colocando as vidas dos bombeiros nas mãos de circunstâncias que dificilmente podem ser previstas ou controladas.
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1 comentário:
Tenho um familiar meu que vai tirar o curso de formação do KA-32. Penso eu. A EMA ainda está em águas de bacalhau.
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