segunda-feira, agosto 28, 2006

Continuam a faltar dados sobre o acidente com o Beriev


Image Hosted by ImageShack
Exemplo de perfil de voo

Quase dois meses após o acidente sofrido pelo hidroavião russo Beriev Be-200 na Barragem da Aguieira, o inquérito ainda não está concluído porque o fabricante não entregou a carta de desempenho solicitada pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (GPIAA).

Anacleto dos Santos, director do GPIAA, explicou que a carta, na qual vêm incluindo dados como os ângulos de aproximação à água, tempo de enchimento ou velocidade, são essenciais para clarificar a dúvida que subsiste quase desde a primeira hora se o acidente se deveu a falha humana ou a limitações técnicas do avião.

"Aquilo de que temos a certeza é que o avião não poderia ter enchido 6.500 litros de água naquele espaço", indica o coronel Anacleto dos Santos, para quem "a questão é perceber se não poderia porque a aproximação à água foi feita demasiado tarde ou porque a aeronave não tem condições para fazer a operação".

Apesar de solicitada logo na semana seguinte ao acidente sofrido a 6 de Julho pelo Beriev 200, poucos dias depois desta aeronave chegar a Portugal para dois meses de testes no combate a fogos, a carta ainda não foi entregue.

O director do GPIAA salienta não poder fechar o processo sem esses dados e sublinha que, estando o avião a ser testado pelo Ministério da Administração Interna (MAI), não quer "entrar em contradição com o trabalho feito pelos peritos do MAI".

Paulo Galacha, da empresa Aeronova, representante da Beriev em Portugal, justifica que a prioridade tem sido dada à operação e que "os relatórios das missões vão agora ser compilados, verificados e entregues ao GPIAA".

O teste, que custa no máximo 1.546.000 de euros a Portugal, termina na quinta-feira, último dia de Agosto ou quando atingir 100 horas de voo, das quais 90 já foram efectuadas durante 21 intervenções em 10 distritos.

A decisão do MAI sobre a eventual aquisição de aviões Beriev, no âmbito da negociação de uma dívida da antiga Federação Russa, deverá ser conhecida com brevidade, porque as cerca de 90 horas de voo já efectuadas pelo aparelho têm sido sempre acompanhadas por peritos designados por este ministério.

A informação está recolhida e os indicadores de eficácia têm sido considerados positivos, mas, conforme o ministro António Costa tem salientado, que nada está decidido até lhe serem entregues os relatórios de avaliação.

É patente, e o facto foi aqui mencionado, que não era possível ao Be-200 efectuar o reabastecimento intergral na barragem da Aguieira, sendo nosso parecer que o acidente se deveu a, numa segunda tentativa, ter sido escolhida uma trajectória diferente, no sentido de maximizar o contacto com a água.

Sabemos, no entanto, que o Be-200 necessita de um mínimo de 14 segundos a uma velocidade que não pode ser inferior a 160 Km/h para efectuar o abastecimento completo, pelo que a extensão a percorrer não será inferior a 650-700 metros.

Logicamente, dependendo dos corredores disponíveis, e dos angulos de descida e subida, um lençol de água mesmo que com dimensão suficiente poderá ou não ser aproveitado, sobretudo se nos lembrarmos que a orografia portuguesa não preveligia as grandes planícies.

Dado que tipicamente o Be-200, após o enchimento, tem um ganho de altitude de 9.5 m/s, se calcularmos a velocidade de saida num mínimo de 200 Km/h, podemos concluir, em termos aproximados, que o angulo de saida andará pelos 12º, sendo que com este valor e com o perfil do terreno onde se deu o acidente, se podem efectuar algumas simulações.

Observando as cartas militares da zona em que se deu o acidente e utilizando o CompeGPS para uma modelagem 3D, é patente que estamos no meio de uma área montanhosa, onde as dificuldades de manobra são evidentes, faltando ainda equacionar dados como os relativos às condições meteorológicas que se faziam sentir na altura.

Não é, efectivamente, determinante a recepção da carta da Beriev, excepto por questões formais, dado que a informação disponível e o registo dos voos realizados permitem, com um razoável grau de aproximação, determinar quais as razões pelas quais este infeliz acidente aconteceu, mas que, tudo leva a crer, se deve a uma tentativa de abastecer mais do que era possível na Aguieira.

Enquanto se espera pela conclusão do inquérito, estranhamos que dados tão fáceis de fornecer como os pretendidos pelo GPIAA não tenham sido disponibilizados prontamente, sendo que a justificação de que a prioridade dada à operação não parece fazer sentido quando estamos a falar de documentação que deverá estar disponível no fabricante, bastando o seu envio atempado às autoridades aeronáuticas portuguesas.

Sem comentários: