quarta-feira, maio 02, 2007

A defesa da floresta é dever de todos


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Floresta portuguesa: um bem cada vez mais raro

Durante o dia de domingo, o ministro da Administração Interna, António Costa, apelou hoje à contribuição dos cidadãos para debelar o problema dos incêndios florestais.

O apelo foi feito durante a apresentação do dispositivo distrital em Coimbra, numa cerimónia que se repetiu em Pombal, no distrito de Leiria e Almeirim, no de Santarém.

António Costa recordou que 2006 "foi um ano excepcional", tendo ardido apenas um terço da área média dos últimos cinco anos, mas lembrou que as alterações climáticas poderão inverter esta tendência.

Para o ministro, o problema dos incêndios "impõe um dever a todos os cidadãos de colaborar na defesa da floresta", e acentuou a prontidão dos meios de combate, humanos e logísticos, de que o Estado dispõe este ano.

António Costa apelou ainda aos bombeiros e demais envolvidos no combate aos incêndios para que usem os equipamentos de protecção individual de forma adequada e cumpram todas as regras de segurança, salientando que "o primeiro dever de quem garante a segurança dos outros é garantir a sua própria segurança".

Com o aproximar da época dos fogos, surgem os compreensíveis temores de que os resultados não sejam tão positivos como os do ano de 2006, que em virtude de uma conjuntura climática particularmente favorável aliada a extensas áreas ardidas e não regeneradas, foram excepcionais sem que tal se deva a medidas estruturais.

Sabendo-se que não houve medidas estruturais que visem proteger as zonas mais críticas, mas tão somente o reforço de meios de combate, numa perspectiva de controle de danos e de minimização das perdas, facilmente se percebe que sem as condições climatéricas excepcionais do ano passado, os resultados não serão os mesmos.

Surge, pois, o habitual apelo à mobilização dos cidadãos, algo vulgar e que se pode entender não como uma real e efectiva vontade de obter a colaboração destes, mas como uma partilha antecipada da responsabilidade, particularmente útil caso a área ardida aumente em comparação com o ano anterior.

Após um triunfalismo inicial, perante uma realidade ameaçadora, o ênfase passa para a alteração das condições climáticas e para eventuais dificuldades acrescidas, fazendo assim transitar a responsabilidade por mais um ano desperdiçado sem políticas de desenvolvimento do Interior e de efectivo ordenamento do território do Governo para a sociedade em geral.

Não se pode dizer que seja uma má táctica, mas é perfeitamente falaciosa e mistificadora, não passando de uma desculpa por parte de quem, nas alturas em que foi contactado, optou por ignorar as propostas de quem estudou o problema e estaria disposto a colaborar.

Na verdade, o Governo quer aquilo que, propagandisticamente, será o melhor de dois mundos, o de ter a exclusividade dos sucessos, mas poder partilhar os fracassos com a população que, assim, não poderá acusar o poder político pela irresponsabilidade com que tem gerido os "dossiers" que dizem respeito ao desenvolvimento regional, à solidariedade nacional ou à problemática do socorro.

Como resposta ao apelo do titular do MAI, poderiamos exibir as respostas que o seu gabinete, bem como aso que outros governantes nos enviaram ou listar aqueles que, pura e simplesmente, nem responderam, o que demonstra claramente que estas são palavras de circunstância que apenas visam partilhar a responsabilidade por um possível aumento de área ardida relativamente a 2006.

Sabemos que o único trabalho feito com empenho foi na área do combate, razão pela qual era possível sentir uma tensão o seio do Governo após a época de incêndios de 2006, com o ministro António Costa a mencionar, de forma algo discreta, que tinha feito o seu trabalho, como contraste com os ministérios do Ambiente e da Agricultura que, efectivamente, pouco fizeram.

Quando os incêndios chegam, com eles vem o salve-se quem puder por parte de quem esqueceu que tudo o que se tem conseguido é ganhar tempo e controlar danos, de modo a que soluções defenitivas sejam implementadas e comecem a dar os seus frutos.

Até que tal aconteça, por muito que se afirme o contrário, não está a haver investimento, mas tão somente a diminuir o desperdício que resulta de um conjunto de políticas imediatistas, sem visão ou perspectiva de futuro, que desde há muito arruinam o nosso País.

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