quarta-feira, junho 13, 2007

Um aeroporto num deserto de ideias


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Aterragem noturna

Apenas umas horas após termos publicado um texto onde era abordada a questão do novo aeroporto, previsto até então para a Ota, foi anunciado o estudo da possível construção desta estrutura e Alcochete, utilizando os terrenos do campo de tiro da Força Aérea.

Esta decisão foi acolhida com entusiasmo pela esmagadora maioria da classe política, dos comentadores e da população em geral, mas o facto é que estamos diante de uma mera opção de localização, com óbvias repercussões a nível de custos e de impacto regional e nacional, mas que continua sem estar integrada numa perspectiva mais global de desenvolvimento do País.

A principal falha que apontamos é a nível de princípios e de estratégia, pois continuamos sem ver da parte do poder político uma ideia concreta do modelo de desenvolvimento do País e, consequentemente, qual o tipo de estrutura aeroportuária necessária e o melhor local para a sua implementação.

Não é aceitável construir uma infraestrutura que representa um vultuoso investimento e que, inevitavelmente, obrigará a prescindir de outros equipamentos sem estudar antecipadamente em que medida serve e se enquadra num plano mais vasto, o qual depende das opções estratégicas que devem orientar qualquer política de desenvolvimento.

Conforme, por exemplo, o novo aeroporto vise suportar essencialmente a actividade turística, ser uma plataforma logística comercial ou um centro de distribuição, assim a localização e o tipo de infraestruturas são diferentes, de modo a corresponder da melhor forma a uma visão estratégica na qual se deve enquadrar.

Ao invés, a discussão continua em redor de pormenores, mesmo que relevantes, mas esquecem que esta, tal como outros investimentos, não são um fim em sí próprios nem uma peça isolada, mas que têm que ser parte de uma visão de conjunto que há muito parece ter deixado de existir.

A falta de uma visão estratégica para o País e a decorrente problemática do ordenamento do território continua a ser um dos maiores, senão o maior obestáculo ao desenvolvimento e não serão medidas casuísticas nem investimentos avulsos que compensam a ausência de uma perspectiva global capaz de desenhar um plano a seguir nas próximas décadas.

O desenvolvimento não é compatível com o imediatismo e os mais voltuosos investimentos não compensam a falta de um planeamento sério e de um debate participativo que envolva toda a sociedade.

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