quarta-feira, março 22, 2006

Bombeiros ameaçam não intervir fora das suas áreas


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Viatura de museu - Bombeiros da Guarda

A Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) deverá decidir, no próximo dia 20 de Maio, apenas quatro dias após o início da "Fase Bravo" dos incêndios florestais, se os bombeiros vão participar em acções de combate fora das respectivas áreas de actuação.

Esta forma de protesto deve-se à falta de coordenação e clarificação das competências das várias forças do dispositivo, disse ao Diário de Notícias Duarte Caldeira, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses.

Se a medida for aprovada num congresso extraordinário anunciado ontem e realmente concretizada, muitas corporações poderão não sair da sua freguesia ou do seu município, deixando sem apoio bombeiros que combatam fogos de grandes dimensões fora da sua jurisdição.

"Se não estiverem reunidas as condições de coordenação entre o nosso trabalho e o do Grupo de Intervenção, Protecção e Socorro da GNR, designados por GIPS ou, admitimos não nos deslocar a outros locais para ajudar no combate", adiantou o Presidente da Liga.

Ou seja, dentro da sua área de jurisdição não está em causa a actuação pois é uma obrigação a que os bombeiros não se vão negar, mas se o combate implicar sair da sua zona e ficar debaixo de um comando superior, deixa de haver condições para trabalhar, afirmou a LBP.

Esta situação só poderia, então ser ultrapassada caso sejam activados os planos de emergência municipal, distrital e nacional.

A criação das brigadas helitransportadas da GNR e a atribuição do primeiro combate aos incêndios aos militares está a criar um forte mau estar no seio das corporações, porque os bombeiros não aceitam que o Governo tenha investido noutra força em vez de apostar na sua qualificação e melhor equipamento das suas corporações.

Esta opção já levou vários comandantes dos bombeiros a demitirem-se, recusando-se a ser comandados por militares da GNR.

Além disso, os representantes dos bombeiros afirmam que não estão claras as atribuições de cada um no cenário de operações. "Se é suposto nós actuarmos depois dos GIPS vamos ficar com o ónus do que correr mal. Como sempre, vamos ser responsabilizados por tudo o que não correr bem", considera o dirigente da Liga.

"O poder político não pode aspirar ganhar esta batalha sem envolver os bombeiros, transformando-os em meros espectadores e tentando resolver tudo com leis", acusa o representante dos bombeiros.

"Não há valorização nem motivação nenhuma para este trabalho", lamenta Duarte Caldeira, mostrando-se muito preocupado com as consequências que este mau estar pode ter no terreno.

Anunciada após uma reunião do Conselho Nacional da LBP, segundo um despacho da agência Lusa, a medida é um desafio ao Governo que o Ministério da Administração Interna, segundo a mesma agência, declinou comentar.

No entanto, numa entrevista dada esta noite à SIC, o Ministro António Costa acabou por minimizar esta situação, dando a entender que, chegada a hora, os bombeiros irão dar o seu contributo como até hoje, independentemente das queixas que tenham.

Provavelmente, o Ministro da Administração Interna crê que, em caso de necessidade, os bombeiros serão vítimas do seu próprio espírito de missão e esquecerão todo e qualquer conflito ou protesto, actuando desinteressadamente em favor das populações.

Embora também acreditemos que, em caso de necessidade, os bombeiros actuarão como sempre onde for preciso, a forma como o espírito de missão dos voluntários é utilizado deliberadamente pelas instâncias governativas, para não resolver este conflito através do diálogo e do consenso, surge como algo de completamente perverso que só podemos repudiar.

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