Fotografia tirada após a explosão no Cacém
A explosão ocorreu cerca das 11:00 quando os dois homens dos Bombeiros Voluntários do Cacém estavam a encher uma bilha de oxigénio para a corporação de bombeiros de Belas.
"Parecia uma granada, daquelas que lançávamos na Guerra do Ultramar." Foi assim que Joaquim Nota, um morador de 65 anos, descreveu ao Correio da Manhã o estrondo que ontem de manhã deixou os Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém, Sintra, em estado de choque quando uma garrafa de ar comprimido rebentou quando estava a ser carregada, na parada do quartel, e provocou a morte ao bombeiro Henrique Lopes, de 48 anos, e ferimentos graves a outro, Manuel Antunes, de 57.
Segundo o comandante João Arrenega, nem todas as corporações de bombeiros dispõem de um compressor para carregar as garrafas, pelo que os bombeiros de Belas, em exercício, solicitaram um favor aos colegas de Agualva-Cacém.
Esta tarefa era atribuída, na maior parte das vezes, a Henrique Lopes, mas ontem, pelas 11h10, a garrafa rebentou, provocando a morte do operador e atingido nas pernas com estilhaços outro bombeiro.
Henrique Lopes e Manuel Antunes foram transportados para o Hospital Amadora-Sintra, mas o primeiro morreu minutos depois enquanto o segundo foi submetido a uma cirurgia.
"Um homem de 48 anos foi atingido na zona do abdómen mas, apesar das tenta tivas de reabilitação, acabou por morrer, e outro de 60 anos ficou ferido nas pernas", disse a mesma fonte.
De acordo com a fonte, o bombeiro ferido foi submetido a uma intervenção cirúrgica, encontrando-se livre de perigo, "mas que poderá ser sujeito a uma intervenção de recuperação de tecidos".
Apesar de comandar os bombeiros de Agualva-Cacém há apenas um ano, João Arrenega é bombeiro há 20 e não recorda casos semelhantes, não sendo de excluir uma deficiência na garrafa, tendo a Polícia Judiciária estado no local a recolher vestígios, após o que será aberto um inquérito para apurar as causas do acidente.
Gonçalo Silva, um bombeiro de 25 anos, chegou ao quartel e deparou-se com os colegas feridos no chão. "Não consigo recordar nada. São momentos em que tudo se torna branco e inexplicável", disse.
Ainda incrédulo com a morte do colega que, segundo disse, era "acima de tudo um bom bombeiro", criticou a falta de atenção do Governo para com os bombeiros. "Estamos num país onde se precisa mais de estádios do que equipamentos para as corporações, meios que podiam evitar falhas humanas".
A política de investimentos, nomeadamente em projectos de duvidoso interesse nacional, que determinam a falta de capacidade financeira para implementar um conjunto de medidas urgentes em várias áreas de actuação, resulta, em grande parte, da falta de consciência e de intervenção cívica que se vive em Portugal.
Infelizmente, verifica-se que não existe uma tradição de participação dos cidadãos nas decisões que mais os afectam, deixando aos vários Governos a possibilidade de, sem contestação, tomar decisões gravosas que podem afectar gerações futuras.
Se tomarmos como exemplo, embora mantendo as devidas distâncias, os acontecimentos que em França levaram a um recuo do Governo e ao abandono da controversa "Lei do Primeiro Emprego", facilmente se verifica até que ponto o povo português se alheia das grandes decisões, optando por um constante lamento enquanto vê o fruto das suas contribuições ser desbaratado.
Para além de lamentar este trágico acidente, deixamos aqui este apelo de participação cívica, de modo a que sejam evitadas decisões que a maioria contesta mas aceita.
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