segunda-feira, julho 24, 2006

Incêndios este ano duram menos


Image Hosted by ImageShack
Um dos muitos incêndios florestais de 2005

Segundo as estatísticas oficiais, até meio deste mês, a Direcção-Geral de Recursos Florestais (DGRF) contou menos incêndios e menos hectares destruídos pelo fogo do que em anos anteriores, com uma diminuição substancial a nível dos grandes incêndios de vários dias, como os que ocorreram em 2003 e em 2005.

Apesar de terem ocorrido 17 grandes incêndios, classificação atribuída quando as chamas queimam 100 ou mais hectares, responsáveis por 58% da área ardida, poucos fogos duraram mais do que 24 horas, pelo que a área ardida, seja por comparação directa, seja comparada com a média dos últimos 5 anos, tem diminuido.

Na primeira quinzena de Julho, refere o documento, registaram-se 2.214 incêndios, que destruíram 1.706 hectares, e que são valores "significativamente inferiores aos valores médios para este período".

Os bombeiros reconhecem que a aposta na primeira intervenção, cuja medida mais visível foi a criação de uma unidade especial da Guarda Nacional Republicana, pode ter contribuído para este resultado, mas, como sucedeu há duas semanas com a morte de seis bombeiros na Guarda, a actividade das forças helitransportadas não está isenta de riscos.

Duarte Caldeira, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), identifica três factores que contribuem para este resultado.

"É indiscutível que é acertada a aposta feita na primeira intervenção aos fogos. Essa é uma das razões. Não só uma aposta nas forças terrestres, mas também no dispositivo aéreo, por exemplo na vigilância armada, com aviões carregados de água. Embora aí a taxa de detecção de incêndios permaneça muito baixa", considera este dirigente.

A introdução do Grupo de Intervenção, Protecção e Socorro (GIPS) da GNR, cujos militares são largados nas zonas críticas nos primeiros minutos, foi a principal novidade na apresentação do dispositivo de combate a incêndios, apesar de já existirem brigadas helitransportadas do Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil que actuam de forma semelhante.

O segundo factor que pode ajudar a explicar os registos deste ano, sugere Duarte Caldeira, começa por ser meteorológico e acaba no campo táctico.

Segundo o dirigente da Liga, "houve dias de muito calor, mas seguidos de períodos de chuva ou granizo, o que provoca menos ocorrências".

De acordo com contas da LBP, no ano passado houve nove dias com mais de 500 ocorrências, enquanto este ano, ate 15 de Julho, o valor máximo está nas 277 ocorrências, registado a 14 deste mês.

"Se há menos ocorrências, há menor dispersão de meios, ou seja, é possível geri-los melhor", diz Duarte Caldeira que encontra assim a explicação para a diminuição de área ardida.

Fernando Curto, presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais, não é adepto da "teoria" da primeira intervenção, mas concorda com Duarte Caldeira quanto ao terceiro factor.

"Há uma melhor organização nos níveis de comando e apostou-se na profissionalização", considera Fernado Curto, enquanto Duarte Caldeira, por seu lado, aplica a expressão "salto qualitativo" para classificar as mudanças introduzidas aos níveis local, municipal e distrital de combate aos incêndios florestais.

Com o número de militares do GIPS a impedir que estes possam ter um impacto decisivo nas estatísticas, resta efectivamente a questão organizacional e, sobretudo meteorológica, de que tem resultado uma menor pressão sobre o dispositivo do que em aos anteriores.

Até agora, tendo em conta o número e a frequência de incêndios, uma comparação com o sucedido o ano passado ou em 2003 é completamente impossível, sabendo-se que as dificuldades aumentam não de forma directa mas exponencial em relação aos fogos activos, com uma agravante em termos de perda de rendimento quando a situação tende a prolongar-se.

Falta ainda ter em conta que as áreas ardidas não têm sido integralmente repostas, pelo que a diminuição da área total a proteger permite concentrar meios e aumentar a eficácia do combate, mas com a agravante de cada hectare ardido hoje ser uma percentagem mais importante do que há alguns anos, pelo que o impacto ambiental para a mesma área ardida é actualmente significativamente maior.

Sem comentários: