Em vésperas do fim da "Fase Charlie", os números disponíveis apontam para a menor área destruida por incêndios florestais desde 1980, ano em que começaram a ser feitos registos, com valores para 2007 na ordem dos 6.2% da média dos últimos anos.
Também o número de ocorrências registadas em 2007 é o mais baixo recentemente registado, com valores comparáveis só há 15 anos, e que correspondem a cerca de um terço da média actual.
Os números da Direcção-Geral dos Recursos Florestais demonstram esta diminuição significativa, enquanto os registos do Instituto de Meteorologia confirmam que este foi o Verão mais frio dos últimos 20 anos e que a elevada pluviosidade manteve a humidade a níveis que dificultaram a propagação das chamas.
Faltou, no entanto, entrar em conta com a devastação dos últimos anos e a descontinuidade que esta provocou, criando obstáculos naturais que contiveram as chamas em áreas restritas.
Para o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), Duarte Caldeira, este foi um ano "globalmente positivo", apontando para "condições climatéricas extremamente favoráveis" como a principal razão desta redução.
Só após a aferição destes dados, a que o presidente da LBP adiciona um maior civismo por parte das populações, se pode estabelecer um cenário que permita interpretar toda a conjuntura e determinar qual a evolução dos métodos de ataque aos fogos que, paralelamente, foram melhorados nos últimos anos.
Por outro lado, e ao contrário do actual titular do Ministério da Administração Interna, Duarte Caldeira opta pela prudência e pela modéstia, evitando triunfalismos perigosos e declarações irrefletidas que não espelham a situação real nem o perigo de uma floresta que continua desordenada e que, dentro de poucos anos, terá armazenado a matéria combustível suficiente para que voltemos aos anos de maior incidência de incêndios florestais.
Dado que em termos estruturais, não se verificaram alterações substanciais, tal como sucede no âmbito da prevenção, pode-se esperar que, caso as condições de anos anteriores se verifiquem de novo, as vulnerabilidades que este ano passaram desapercebidas surjam novamente e a floresta arda mais uma vez sem controle.
A aposta na pervenção, para além de ser mais barata do que os custos dos meios de combate, diminuo os riscos de todos, especialmente dos que combatem os fogos, e evitam sacrificar as populações e os seus bens perante um desfecho sempre incerto.
O ano de 2007, particularmente pacífico em termos de incêndios, teria permitido implementar muitas das medidas de prevenção, incluindo a nível de formação das populações, dos agentes da protecção civil e de proprietários rurais, utilizando os recursos disponibilizados para o combate que, em largos periodos, permaneceram inactivos e sem missões alternativas atribuidas.
Sem por em causa a disponibilidade dos meios de combate, será de equacionar a possibilidade de, durante períodos de baixo risco, serem atribuidas funções diversas, sobretudo na área da prevenção, de modo a que nos períodos de maior risco de incêndio ou nos anos seguintes, nos possamos deparar com condições menos favoráveis à propagação dos fogos.
O ano de 2007, felizmente, foi mais favorável do que se esperava, mas só com trabalho e prevenção se pode esperar que números semelhantes se verifiquem no futuro, pelo que é essencial começar, desde já, a acautelar algumas situações simultaneamente perigosas e previsíveis.
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